Desceu da aeronave e moveu os olhos como se procurasse um cheiro. Nada encontrou. As mãos coçaram os bolsos e cigarro foi de súbito represado. É melhor manter o nariz limpo para que eu possa escolher a rosa certa, de fato. Cruzou o pátio e demorou alguns minutos, na pista do desembarque, escolhendo um táxi que não viesse com vidro fechado, ar condicionado, não, precisava cheirar a luz do dia.
Desceu e já na esquina sentiu o outro, pulsando impaciente, no apartamento lacrado. Pensou sobre a distância enzima entre ele e seu amor, distância que agora, de súbito, havia diminuído. Bastava uns passos para romper o tempo e juntar os espaços. Mas não cedeu. Tirou o olhar do marrom prédio e buscou a ordem das folhas, dos aveludados caules, do rosa vermelho da planta clichê, presente ordinário, pensou.
Um quiosque de flores num domingo ameno, agora aumentado. Não queria café nem mesmo jornal. Queria apenas um par de rosas para aludir ao amor que no mundo hoje talvez só houvesse mesmo aquele um amor. Eu e você. Um par de rosas. Comprou.
Interfonou. Subiu alguns degraus e ante a marrom porta, escondeu os olhos enxurradas em um par de rosas.
A porta aberta. O peito rachado enfim achou cola no olhar que fazia dias não o mirava. Cheguei, exalando saudade cor de rosa. Me põe na cama? Eu estou cansado de te buscar. Preciso urgente do peso afago do seu ronco suave e desordenado.
Deitaram. Um sobre o outro. E agora aqui estou eu, autor, sonhando o que virá no vindouro. Decerto, o que virá já veio. Por certo, o que já veio de fato é isso, que estas palavras jamais darão conta de capturar.
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