Olhei ao céu. De short vermelho, camisa branca, subi a rua de casa tentando não acelerar meus passos. Uma angústia leve me toma. Não sei como devo proceder, por isso escolho andar mais lento. A lua, hoje, parece um berço. Retinta e pontiaguda, berço que corre o risco de tombar, caso se provoque excessivamente o seu sutil equilíbrio. No alto, um pouco acima dela, uma estrela nó, ponto, estrela carimbo, brilha solitária me sugerindo: quero cair no abraço da lua, quero deitar dentro da sua boca luminosa.
Termino de subir a minha rua e a estrela, seduzindo a boca em halo, me convida. Que boca é essa e onde ela está? Olho o céu e sei que ele me é espelho. Então, me pergunto, que desejo? Que desejo é esse que me chama só por sugestão? Já estou em casa. Ouço músicas que não conhecia até hoje cedo. O dia está tranquilo, está ameno. Delicadamente, postergo para o amanhã o que hoje eu deveria já ter dado jeito.
A prosa ajuda a costurar os passos dados. Recorro a essa linha contínua quando me sinto por demais desamparado. Recorro às linhas deste verso sem fim quando falta-me mão capaz de segurar meu escorrimento, meu desejo de sumir, de deixar-se de lado. Eu hoje talvez não tenha mais jeito, então vou-me deitar. Sobre a cama, nu, me abro ao céu sobre o teto claro deste quarto poema do dia.
Uma paz profunda me avassala e brinca com minhas inertes rugas. A violência no mundo se multiplicando e eu aqui escrevendo poesia para não me assassinar.
Não duvido mais das palavras. Porque foram elas que me fizeram alguma coisa encontrar.
Lento, sem muito esforço, volto a saltar linhas
e a fazer da contínua linha
soluço ameno do momento
...
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