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terça-feira, 18 de março de 2008

Em trânsito

Estou no meio desta cidade, neste momento.
Tenho desejo de comer e como.
Sigo adiante.
Sempre adiante, não posso voltar.

Do meu lado esquerdo um casal se abraça
Poderiam fazer amor, eu não veria.
Mas escuto seus gemidos de prazer
com a devida dor que me apraz.
Preciso conhecê-los a mim
em mim
Assim:

Do meu lado direito alguém passou
e se fisgo
pesco
e em mim apreendo
é porque assim foi
o que o meu peito
desejou.

Transbordou-me a pudica pudez puída
Quero, então?, a poligamia.

Mas qual se sequer sei ser um só?

Volvo
e continuo à rua acima
Sempre acima
na direção do meu sangue
que esquenta
e sobe sobre os cílios
virando olhos
endurecendo meus riscos.

Nas curvas acentuadas
dos indesejáveis desejos
somos seres passageiros.
Tocamos mãos alheias
pedaços de pernas mãos e falos
num ônibus cheio.

Eu ou você quem tocou?

Não saberia dizer
Se o contato foi entre os dois
A culpa é de quem?

Da minha pele?
Do seu pêlo?
Da minha vergonha
ou do seu desejo?

Talvez a culpa seja mesmo do sol
Ensejo ao santo desejo de cada dia.

Calor
Agoniza
Dentro aqui
dessa camisa

Desejo
vem em mim e se eterniza
feito tatuagem marcada
na pele mordida.

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