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domingo, 28 de setembro de 2014

Kafka por Jeanne

Não tem problema.

Não, não entendo.

Por quê? Eu deveria entender coisa alguma?

De escada. Sempre de escada.
Jeanne subia e descia a Instituição
levando de mão em mão
Caixas e mais caixas com papéis
E eventualmente
(ela não entendia)
Cachos de uva.

Uva verde.

Não entendia.

Mas por que você quer entender o porquê das minhas idas e vindas?

Ninguém respondeu.
Subiu mais um lance.
Ninguém a perguntava nada.

Seria o calor do dia
O frio do ar condicionado
Seria a menopausa estacionando nela
Seria o filho que não teve tempo para ter.

Jeanne parou: 89...

Como é que se falava?

Octogésimo nove.

Octógono nono.

Nada.

Ninguém lhe disse nada.

A testa suada, Jeanne percebeu:
estava a se permitir ser arguida
por Kafka.

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