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segunda-feira, 14 de abril de 2014

provavelmente não

provavelmente você não sabe
mais uma criança acaba de perder a mão
um pedaço do pé
e viu, sem ver,
abrir dentro de si
vasta erosão

não, provavelmente não
os jornais não darão atenção
nem as fotos
das mídias livres
serão capazes
de tamanha descrição

crianças
massacradas sem opção
tanques de guerra
desfilando imunes
avançando asfalto
paredes e calando a vida

provavelmente não

provavelmente você não sabe disso
nem eu saberia te contar

eu perdi o dom da palavra
no exato instante
em que elocubrei
isto que desejaria te contar

eu perdi o verbo
e tudo ficou estático

um sorriso tirado do rosto
e escondido entre os remendos
do que fora um bolso

tudo rasgado

famílias inteiras
agravadas pela chuva
tentando manter de pé
o sentido
de um tempo
tão insensato

por que não o fogo?
ao invés da chuva?

se há o céu
há também o chão
se se abrem largos olhos
dos quais despencam água
por que não abrir o chão
para formar bocas imensas
e imunes
à covardia?

engula-se, mundo

leve-se de volta, sem piedade

vai, será melhor assim

depois, entre o charco
a gente se reconsidera
e tenta de novo entender
como começar de novo

como recomeçar,
mas sendo todos
parte
da mesma miséria;

o homem.

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