provavelmente você não sabe
mais uma criança acaba de perder a mão
um pedaço do pé
e viu, sem ver,
abrir dentro de si
vasta erosão
não, provavelmente não
os jornais não darão atenção
nem as fotos
das mídias livres
serão capazes
de tamanha descrição
crianças
massacradas sem opção
tanques de guerra
desfilando imunes
avançando asfalto
paredes e calando a vida
provavelmente não
provavelmente você não sabe disso
nem eu saberia te contar
eu perdi o dom da palavra
no exato instante
em que elocubrei
isto que desejaria te contar
eu perdi o verbo
e tudo ficou estático
um sorriso tirado do rosto
e escondido entre os remendos
do que fora um bolso
tudo rasgado
famílias inteiras
agravadas pela chuva
tentando manter de pé
o sentido
de um tempo
tão insensato
por que não o fogo?
ao invés da chuva?
se há o céu
há também o chão
se se abrem largos olhos
dos quais despencam água
por que não abrir o chão
para formar bocas imensas
e imunes
à covardia?
engula-se, mundo
leve-se de volta, sem piedade
vai, será melhor assim
depois, entre o charco
a gente se reconsidera
e tenta de novo entender
como começar de novo
como recomeçar,
mas sendo todos
parte
da mesma miséria;
o homem.
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