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sexta-feira, 29 de março de 2013

hora do retrato


eu aqui, meus filhos. despido. exceto de tantas iras, que vez ou outra em mim se enraízam. eu aqui, filhos meus. nu e tranquilo. como pode? com um tempo, algumas impaciências se amolecem e viram possibilidade. tal qual isso. vosso pai aqui ciente de si e ainda assim tranquilo. quando foi que achei ser possível alguma tranquilidade?

olho para vocês tão em abandono e me desespero. hoje é mesmo tarde. mas sigo, operando aquilo que talvez seja o possível além do impossível. o vosso pai segue, e leva a família inteira (nós) consigo. o café aqui ao lado. a fumaça ansiosa por chegar. vosso pai vai sair de casa em alguns minutos para viajar. de ônibus. e vai ouvindo músicas, dormindo, lendo, sonhando... e capturando o mundo em fotos que possam lhe expressar o avassalo que é ter íntimo.

vosso pai está seguindo, meus filhos. ainda sem cuidado, como sempre o fui. continuo seguindo acreditando que o cuidado é detalhe dessa história. detalhe desimportante. o cuidado é quase nada. porque o nada, mesmo, ele me interessa. amo, filhos, tanto o eco que o silêncio desdobra. amo tanto, meus filhos, esta hora morta. de agora. esta paz caudalosa, visto estarmos todos tão cansados dessas guerras diárias.

papai está emotivo. confesso. estou. estou cansado desta cidade do rio de janeiro. estou triste num nível profundo. temo as respostas que posso vir a dar ao mundo. não serão legais, não serão seguras. serão infalíveis, flertes diretos e atados à loucura. e essas respostas, meus meninos - e meninas - são vocês mesmos.

vocês, sendo aquilo que o papel não tem condição de ser. ou por medo, ou por preguiça (talvez sim, preguiça), ou por motivo ainda vindouro. eu me embriago aqui com vocês e por uns instantes, ouço o violino tocando e o mundo cabe aqui, feito abraço em fim de tarde.

é chegada a hora do retrato. para não esquecermos quem somos nesse mundo arbitrário. enraízo-me aqui. em vocês. de vocês me faço e por vocês continuo. e o amor, o amor está aqui faz tempo. não vamos ter problemas com isso. amor não é problema, então não confundamos os verbetes e seus ressentidos.

vou-me. mas volto-lhes.

diogo liberano
sexta-feira, 29 de março de 2013
no quarto de nosso apartamento, em vila isabel
ouvindo pompeii from bastille [kat krazy remix]
  

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