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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Crispada.

Pensou se não estava amarrada ao mesmo hábito de sempre. Não, caro leitor, cara leitora, ela não sou eu, o autor, apenas com sexo modificado. Ela é ela. Livre de mim, ela é tudo aquilo que não sou. E então se sentou, de olho na caneca transbordando café. Sempre o café (que me acompanha, pensou). Não não não. Não se trata disso (pensou o suicídio). Nem disso (pensou outra coisa menos importante). Se trata apenas do fato - mais uma vez, fato duro como pedra - de que nunca antes havia sentido aquilo que agora, ali, naquele instante, a preenchia e tomava.

Não tomou o café. Permitiu-se apenas mirar a caneca branca e ver, lento, o café se esfriar em meio ao tempo. Na cabeça, por alguns segundos, tudo havia se apaziguado. Por que é que pensamos no problema quando não queremos mais pensá-lo? Ela sabia que não era a primeira vez e que talvez não viesse a ser a última. Por isso persistiu, vendo na neblina sobre a caneca o desanuviar da própria confusão. Lá fora um pássaro voou atrás de outro. As folhas da árvore se esbarraram em comum acordo. E então ela desceu uma das mãos que estava apoiada sobre a mesa e a guardou entre as pernas.


Sozinha, em casa, sem sede ou fome, foi lenta preenchendo o vazio. Com calma, desvelando a pressa, foi por sobre o fino linho adentrando o desassossego e se existindo. Com calma, como nunca antes, bem lenta, acariciou-se a ponto de corte e persistiu inerte, olhando a fumaça do café ventar para longe. Não fez barulho. Ficou, dura, como fosse poste. Mexeu-se lenta e sem fim, até que por fim, pouco óbvia, cessou brusca a mão e aguentou - como se fosse possível - a torrente querendo escorrer. Crispou os olhos, franziu as bocas, mas resistiu.

Os altos saltos nos pés quentes e baixos riscaram o piso de madeira.

Era mulher pra sempre agora na beira do desejo. Ali nascera, ali ficaria. No ponto de corte, gozando a vida inteira o gozo que jamais viria.

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