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domingo, 12 de maio de 2019

O que mais ele está se dizendo

É que se acalme.

Por favor, se acalme.

A correria tende a atropelar os acontecimentos
E aquilo que acontece, por vezes,
É tão pequeno, tão ínfimo.

Acalme-se, eu te pedia.
Por favor. Fica aqui
Neste tempo
O único
O presente.

Consegue?

Agora, ficar agora, só neste agora
Voce consegue?
Me diz?
O que te acontece?

---

Agora estou dentro de um ônibus. O casaco de moletom preto me conforta sob o ar-condicionado que eu mesmo virei para minha cabeça. Minha cabeça dói um pouco. Minha boca está úmida. Penso muito, mas nem tanto. Sobrevivo. Deveria te dizer o que sinto? Já não sei. Foi amor, era, estava sendo, ainda é, sem dúvida, mas é tão confuso. Tão confuso. Acredito que tudo seria um pouco menos confuso se conseguíssemos definir um pouco a coisa toda, todo o movimento. Mas isso é possível? Definir algo não seria o mesmo que privar esse alho de ser simplesmente, de respirar? Não posso agir assim. Por isso entendo o pedido de calma, também gostaria de me acalmar. Mas, por agora, agora, você me pediu, neste agora quero fechar os olhos sob o sol que entra pela janela. Ouvir uma música amena e antiga. Quero dormir e acordar lá na frente. Vê-lo novamente. Com delicadeza, ser o que sou, evidente, visível, confidente. O amor é para quem? Para mim? Para ele? Para nós? Para o tempo que não cessa de morrer e nascer novo e renovado? As perguntas não cessam porque, talvez, continue a vida em acontecimento. Agora? Agora eu penso em fé. Penso se haveria algo nesse universo capaz de reter um pouco, de me segurar, se haveria alguma inteligência sensível capaz de me contrariar e dizer: ei, rapaz, não me venha com essa correria, não adianta bradar nem gritar, não precisa morrer nem matar, apenas exista, exista no sobressalto que o caminho vai passando e nele você vai encontrando seus passos. Agora é isso.

---

Mas já mudaria. E seria essa a beleza
Mais temível e mais tremida
A saber: a vida não para.
A vida não volta.
Ela só vai
Nela se vai
Se vai assim, vivendo ou não
Se vai.

Às pausas
Ao tremor integral e delicado
Ao amor que nos tira o senso
E que faz da vida aventura sem fim
Interminável aventura sem parâmetro
Sem controle
Sol.

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