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quinta-feira, 5 de junho de 2014

meus braços estendidos na sala de estar

eu abri a porta já com os olhos lacrimejantes. em outros momentos, eu teria feito algum esforço para chorar. às vezes, eu preciso me fazer chorar, apenas para comover o corpo e (por que não?) sentir um pouco de pena de si próprio.
me julgo tão forte, tão certeiro, tão pouco necessitado de análise, que me fazer chorar me revela que eu não sou tão certo assim de coisa alguma.
então entrei dentro de casa, no escuro, com a música estourando os ouvidos. falei oi para o gato, miando em silêncio pela casa sem você.
estiquei os braços a sua procura e nada. eu sabia que você tinha partido, mas meu corpo queria te ver, te apertar, te beijar.
quanto medo eu tenho de te perder.
os braços estendidos, na frente do corpo e eu vagando no escuro entre sala, quarto, banheiro e cozinha. a nossa casa é pequena mas sem você ela fica imensa. eu já não sei mais o que seria viver sem você.
meus braços erguidos. um choro quente me descendo a face, lento e contínuo.
me achei um pouco ridículo.
depois entendi um pouco mais sobre o amor.
depois, rapidamente, me disse: deixa a vida acontecer, diogo.
(e dentro eu só pensava no que poderia ser a minha vida sem você).
dormi.
e estranho: não sonhei.
por que é que sonho tanto quando você dorme ao meu lado?
por que é que eu não decoro o seguinte gesto:
sempre, sempre que estiver ao seu lado, na cama, envolver-me em você
te abraçar
mesmo que você me tenha irritado
mesmo que eu tenha feito algo que tivesse lhe irritado
sempre
nunca deixar de te abraçar
quem sabe assim
meus braços ontem à noite não estariam menos desamparados.
hoje li o seu horóscopo e ele me dizia que o dia seria bom para você encontrar alguém com quem provavelmente viria a ter uma intrigante simbiose espiritual ou amorosa
o que eu faço com o horóscopo nessas horas?
não posso fazer nada

eu ainda vou continuar junto
porque junto é a minha única maneira
de ser.

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