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segunda-feira, 16 de junho de 2014

Aos pés

Você está ao meu lado agora
Eu sei
Eu posso sentir
Eu te miro de frente
E te pergunto
O que você está pensando?

Você faz um longo silêncio
Dentro do qual eu penso
Que naquilo em que você pensa
Não caiba o nosso amor

E então você se embaraça
E eu lhe digo
Deixa
Deixa, demorou demais
Agora deixa

Uma urgência me comove
E com amor não deveria haver
tanta pressa

Você me confronta com coisas que tenho vivas em mim
E que me desorientam

Eu te olho
Eu já te entendi
ao menos um pouco
eu já sei como você irá reagir
Eu te olho
E eu vejo
A todo o instante
O seu prazer em ser visto
E em ser modelo da hora do instante

Você me disse uma vez
Eu preciso ser o centro
Das atenções
E eu não descanso
Desde então
Preocupado com o dia no qual as atenções não estiverem voltadas a você

E tudo então me dói mais fundo
Dói-me fundo
Toda vez que te vejo
Querendo ser mais do que você realmente é

Esforço perdido
Eu te olho
E você se fazendo além de bonito

O traço
O cabelo
A linha da ruga jovem
Tudo em você ganha contorno
A provocar desejo

Que medo é esse de aparecer ao mundo mais desarmado?
Que fraqueza é essa que não se pode conviver com?

Um dia eu acordei
Nu
Ao seu redor
Ao seu lado
E sabe?
Ali você me provou
Que eu podia confiar em ti
Que eu podia ser aberto
Exposto
Entregue
Sem nada que interceptasse o nosso laço

Você me ensinou aquilo que sequer sabe ainda.

Eu estou cheio de dores de cabeça
Tentando administrar a sua paz interior
Refletida em seu creme facial

Por que me soa tudo isso mais grave que o possível?

Sinto-me instável
E inseguro
Sinto que eu não sei como ser porto
Para barco tão revolto e cascudo

Tenho medo do não-dito
E dos desejos que os dois segredam um do outro

Eu não sei o que pensar
Nem o que dizer
Mas escrevo como quem acredita
Ser possível compreender.

Sabe?
Eu ainda não aprendi a confiar
Sabe?
Tu também não.

Ou seria todo esse conjunto de palavras
Apenas juvenil especulação?

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