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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

pondero

com calma ele pega a faca
perfura o universo do queijo
torna ruidosa a planície amarelada

com calma, eu disse, com calma
ele avança por entre o gelo
ele estende sobre a mesa
as fatias
as rodelas
as toalhas de boca
de banho
de mesa
ele estende a vaga

e deita
por entre cubos e queijos
ele por entre o pó
o pó
que nu ao vento
é passageiro

nada dura, querido moço
nem mesmo sua mocidade
não dura sequer o queijo
nem sequer a planície amarelada
nem o céu azul das cidades

nada dura, querido
tudo é assim destinado à podridão

então morde o quente e o frio
morde a semente a casca e os destinos
todos:

são sabores improváveis

vá mordendo tudo ao meio

que é desse caso
que nascerá sua dignidade
sua cor
sua escuta
seu céu
sua fé

sua maneira de abraçar o tempo
e de se divertir nos ponteiros das horas.

Um comentário:

Denis Duarte disse...

intenso.
só é um pouco fatalista pra esse inicio de primavera, tem mais cara de inverno.

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