com calma ele pega a faca
perfura o universo do queijo
torna ruidosa a planície amarelada
com calma, eu disse, com calma
ele avança por entre o gelo
ele estende sobre a mesa
as fatias
as rodelas
as toalhas de boca
de banho
de mesa
ele estende a vaga
e deita
por entre cubos e queijos
ele por entre o pó
o pó
que nu ao vento
é passageiro
nada dura, querido moço
nem mesmo sua mocidade
não dura sequer o queijo
nem sequer a planície amarelada
nem o céu azul das cidades
nada dura, querido
tudo é assim destinado à podridão
então morde o quente e o frio
morde a semente a casca e os destinos
todos:
são sabores improváveis
vá mordendo tudo ao meio
que é desse caso
que nascerá sua dignidade
sua cor
sua escuta
seu céu
sua fé
sua maneira de abraçar o tempo
e de se divertir nos ponteiros das horas.
Um comentário:
intenso.
só é um pouco fatalista pra esse inicio de primavera, tem mais cara de inverno.
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