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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

dedo quebrado

incrível como o corpo se acostuma aos infortúnios
agora neste instante meu dedo quebrou-se em pedaços miúdos
mas tudo dentro é ainda paz
nós, eu e meu corpo, nos acostumamos com o estar partido
a gente se respeita nisso
a gente ainda é
sobrevive
resiste
atualiza.

incrível como a dor faz parte
como ela é essencial
dentro moído o corpo continua angelical
fazendo seus gestos seus atos-protestos
suas rimas infantis e seus sonhos eróticos

o corpo moído não é pretexto
é fachada
tudo está claro dessa forma
não queremos ser rosa

rosa cândida leve suave cortante
rosa que cheira a mel que cheira crime
rosa cheira e chama os amantes

mas não
fiquemos assim partidos
mas costurados por essa pele
que agora também está ralada
está riscada, pedindo se possível
quero romper
deixar de mim partir
como foi aquilo entre eu e você

corpo assim moído nunca sabe quando acabar
porque cada passo significa no fim das contas
nova sinfonia da dor louvável
nova sinfonia das partes improvavéis

escuta?
foi meu osso rangendo no coração
ouve,
agora foi meu dedo estalando a coluna
e virando canção

você me escuta?
me ouve?
não quero ser olvido.

dói corpo dói então
pois assim serás sincero
serás dito (no estalar)
e desdito (ao cicatrizar)

serás contínuo
e impreciso

me escuta?
me ausculta
me desnuda
me deixa apenas pele pedaços e pêlos

e nada mais
e nada há mais.

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