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sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Meias sobre a mesa


Deixei sobre a mesa o par de meias não tão limpas
nem bem tão sujas assim

Deixei sobre a mesa e os pés, então, tocaram o frio chão
desta sexta-feira ensolarada

Sem provocação alguma, o fiz porque o calor constante
confunde-se em mim como se pudesse ele me ser casa

Mas casa por vezes é o vento
O tempo por vezes é casa
Casa é por vezes o distrair-se
Esquecimento

Sinto os dedos rangendo como se dor sentissem
sinto muito que as coisas fizeram isso de nós
sinto que o calor do seu abraço seria preciso
mas apenas sinto, disso tudo pouco ou quase nada sei

As linhas parecem desajustadas
o senso dalguma justiça atrasado
o espírito meio que espirra
a salada morre lacrada dentro do plástico

Podemos escolher se o poema seria assim
ou de outro jeito

Podemos postergar o consertar dos móveis
a louça na prateleira organizada

Podemos, no entanto, não poderíamos nos olhar
como se um fosse um copo e outro uma chávena

Corpos assim feito os nossos sangram mais que cacos
quebram mais que vidros finíssimos


Cristal seria pouco quando te mostro do que é feito meu íntimo


Está tudo bem, meu amor, ainda que dizer amor
já não parece capaz para te trazer até mim
Tudo bem, é cedo, não deixe partir o que ainda pode
o que ainda podemos, podemos, mas não poderemos caso não possamos poder isso que sei que nós podemos poder; algum amor bem quentinho e aconchegante
  

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