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sexta-feira, 28 de abril de 2023

Línguas mordidas

Tanto falaram sobre
a importância categórica
do desejo oh desejo
tanto disseram
naquela tarde
regada à álcool
que é estranho
vê-los assim
agora
tão
impedidos

É como se a fotografia
vazasse como se o meio
quisesse ser princípio
como se no fim da jornada
ainda tivessem tantas
questões
entre
abertas

É estranho
que a defesa feita
da ordem do dia
que ela seja assim
tão
provisória
mente

É estranho, perdoem-me,
é mesmo estranho
que vocês falem tanto
e agora estejam
assim
desnutridos
sem palavra nem viço
completos
idiotas
com as línguas
mordidas

Vocês sabem, os senhores,
sabem que do desejo
não haveria fuga
mesmo assim
tentam curvar
a angular esquina
fazendo voltas
e rodas e festas
e turvam tudo
com esse discurso
que tentar consertar
o que já é
e sempre se soube
ser
precipício

 

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