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domingo, 10 de novembro de 2019

Volante

Poderia soar como um tropeço
mero desespero
Talvez
a comida não viesse assim tão agradável
Mesmo morna ou sem sal
cada gesto ali naquela esquina
Poderia soar como um pretexto
para um recomeço

Ou não

Ele
Pediu a conta
sacou o cartão da carteira
e debitou
ágil
o transtorno
que o debilitava

Eu pago
Não
Eu pago
Não precisa
Eu pago, eu pago, eu te convido, estou te convidando

E entrariam numa conversa secreta e sigilosa
sem voz conversa sem prosa


Está me convidando para o quê?



Estou te convidando para se perceber sem mim



Para quê?



Estou me convidando a te perder de mim



Você disse estar me convidando e te pergunto: convidando para quê?



Estou saindo de ti, provando a mim, mais a mim
mais a mim do que a você, tentando me provar que posso 
posso eu ser eu mesmo sem você



Ele não vai me dizer nada?


E caminharam
desceram a pequena avenida
Era noite
talvez um dos dois pensasse
que chegariam num ponto
no qual o beijo fosse necessário
E de fato
sim
quando se despediram
deram aquele beijo automático
estalado
beijo sem estrelas
não estrelado
Deram-se um abraço

Um deles reconheceu que o outro estava mais encorpado
ao que esse disse
Estou me cuidando, estou me cuidando

E acabou a noite

E ele entrou no carro

E abaixou o vidro a tempo de dar um adeus

Não que viesse a ser o fim
mas era um novo fim
outro fim
sem trauma
Sem treta
Fim desejado por ele fim escolhido por ele modelado

Ele no volante
Ele pegando de volta
a vida
pelos cabelos oleosos e despenteados

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