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domingo, 6 de setembro de 2009

o chão de nuvens

passado alguns tremores, alguns sentidos
o que vi pela janela era o céu se convertendo em concretude
em possibilidade
em chão
em não mais destino
em não mais apenas divagação

*

vi o quanto fomos ou somos incríveis
vi o alumínio da asa batendo em meio ao vento
me senti seguro na insegurança
de um detalhe
de uma ousadia expressa em docilidade
era o plástico, o cinto de segurança
era a asa, uma engrenagem
a dança da máquina
voando livre
passível de destruição
passível de passos largos
de merecida contemplação


*

é concreto. somos menores do que somos.
lá no céu furando o universo
eu vi como há espaço
para aquilo tudo que não podemos compreender
por isso resta tanta incompreensão
pois tudo que ainda é dúvida
plana pleno no ar
deita seguro no colchão nuvelado
num quadro ansioso
para ser desvirginado

*

morrer às vezes
é um encontro da sorte.

*

estavam todos ali
comendo nuvem de algodão.

Um comentário:

juliamarini disse...

há muito tempo não leio algo tão óbvio e brilhante do que esse verso:
"é concreto. somos menores do que somos."

bjs*

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