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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Às vezes, mãe

Mãe, dramaturgia é esse texto que eu escrevi antes e que os atores e atrizes decoram e falam em cena, como se fossem a fala de outras pessoas (que nós chamamos de personagens). Mas, às vezes, olha que loucura, dramaturgia é também o texto que eu não escrevo, mas que é dito em cena mesmo assim; ela é também o texto que não precisa de palavras para ser escrito; dramaturgia também pode ser outras coisas que nascem não diretamente a partir de algo que eu disse ou escrevi, mas a partir de algo que vem de fora de mim, algo que eu ouço ou mesmo algo que tá acontecendo no dia-a-dia da nossa sociedade. Ou seja, o trabalho com dramaturgia pode ser entendido por dois pontos de vista: o primeiro afirma que dramaturgia diz respeito a textos criados para virarem peças de teatro (é uma definição que acalma a gente, que resolve e afasta um excesso de possibilidades e mesmo dúvidas sobre esse fazer artístico) e o segundo ponto de vista afirma que dramaturgia é aquilo que ainda não sabemos, tendo em vista que não temos como afirmar o que pode uma dramaturgia (essa é uma definição aterrorizadora, que abre a dramaturgia e aproxima dela o infindável reino das possibilidades). Às vezes, mãe, precisamos trabalhar com uma dessas definições, às vezes com a outra. Às vezes, com uma terceira, às vezes com várias ao mesmo tempo.


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