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terça-feira, 22 de outubro de 2019

247.


Por poucos dias, esses papéis ficaram afixados no espelho do guarda-roupas. Acredito que se ficaram por ali pouco tempo, ao menos em mim, aqui, ainda agora, se fazem presentes. "Acabou". Dizia um deles. O outro, imperativo: "Recomeça. Diferente."

Sabemos do que se trata. As coisas não param de acabar. Não param de morrer. Portanto, não param também de começar. E começam diferentes, ainda que tão parecidas. Quem dirá o que mudou? Você? Eu? Sem dúvida. Eu sou quem restou. O resto que ficou. Eu fico. Eu resto. Acabado e diferente.

Esse processo - esse processamento - que é estar vivo. Quantos cigarros ontem? Apenas 8. Foi preciso dormir cedo para não fumar mais. Acordei cedo, no entanto, e já se foram mais 2. Restam 6 para o decorrer deste dia. Como dizia aquela linha numa dramaturgia escrita por mim: "Que hora é essa que não passa?"

Sigo me perguntando, me pesquisando, me provocando. Provocando-me a mudar, a cambiar, a perceber o que me é destino e o que ainda posso escolher. Não mais controle. Aceito o vento. O vento, apenas, sem mistificação. Aceito a mudança de rumos. Aceito. Aceito. Estou aceitando. Estou tão cansado que essas fotografias analógicas me devolvem um pouco do trabalho que é se fazer ser e ser enquanto ser presente.

A dor, minha guia, pouco a pouco fica tão íntima que já nem faz mais tanto estrago assim. As dúvidas, as suposições, as hipóteses, tudo isso, tudo mesmo, isso tudo perde a pompa insondável e vira migalha de pão. Eu faço a faxina.

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