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sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Escasso


Das imaginações
sobre o que viria
depois do corte

nada veio.

Das hipóteses
especulações essas
palavras bonitas

indicativas de possibilidades

também não.

Estava tão preso
no hábito
que desaprendeu
ser sonhador.

E quando perguntado
se ele imaginava
para onde iria
caso tudo acabasse

ele desabou.

No chão
onde mais
onde iria
onde estou?

O amor também tem seus sonos

Uns duram mais do que os dias

Outros também.
 

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Transfer.


Não despejarei sobre ti meu insensato desespero
ele fede à peixe azedo.

Nem apontarei os dedos que tenho e outros que compraria
nenhuma justiça é assim tão sem curva.

Não aceitarei simplificações
Não cederei à possibilidade de um eventual sono tranquilo

Sou todo desassossego.

Essa trama
– meu desespero –
antes de dores
diz que estou

vivendo.

Encaro a dor
ela diante de mim
não em meu colo
De pé estamos

E ela soa tão breve
quanto uma amizade
que era eterna e
subitamente findou.

Noutras telas
hei de cuspir
essas mágoas

e assim
quando de mim
for removido
o que me remói

voltarei ao seu rosto
para dizer-lhe
coisas
bonitas

e gostosas.
 
 

domingo, 19 de outubro de 2025

38


Ganhar mais um ano de idade
Ver morrer mais uma idealização. 

Acompanho desinteressado 
O desfile das modas
(ele ainda é o mesmo).

Ainda assim demando
Outros aniversários
Para chegar mais longe 
Da linha que tortura

Não era isto o que deveria
Não era este quem serviria 
Não era tão triste, tão indiferente 
Que diz que não 

antes de qualquer minha alegria. 

Rasgar a linha
Pegar tesoura (ou dente) 
Romper a faltosa da ladainha
Confiar que sim

O que se é, é como se está 

Sem comiseração 
Sem comentários 
Sem pôr nem tirar 

Tenho percebido que beber cerveja já não me faz tão bem quanto antes. 
 


Iminência


Outra vez
Noutra antessala 
Nesta mesma vida
A mudança tarda
Noita
E para às 8h
Temos consulta marcada. 

A beleza do viver
Reside no esquecimento
Não lembrar faz padecer
Bem menos. 

Se fôssemos contabilizar 
As agulhas, os roxos
Os furos, as seringas
Acabaria o sol
Que anima a calculadora
Desista. 

De esquecimento em esquecimento 
Vai-se escrevendo a coisa quase
Toda. Vida só é vida se
Mais da metade vivida 
For feita apenas de
Coisas bobas

Esquecíveis

Dignas de nada 

(e aqui não teremos exemplos).
 

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Barzinho

Como um bar
Onde me jogo
Este poema chega
Supositório. 

Dado o vento
Os falsos contratempos 
De quando em quando 
Somos só nós dois 

O poema e minha
Embriaguez. 

Dessa vez
Eu digo
Será a sério 
Mas ele não. 

Ele me olha
Mesa oleosa 
Dizendo que
É possivel

O tudo.

Pouso no balcão 
Já bêbado 
Sem interrogação 
Para fazer pergunta. 

Os olhos dançam 
Nas órbitas
Recreio-me que
Talvez pudesse. 

Desafogo o
Desassossego 
Desamasso
Esta cara.

Hoje estou sorrindo 
Porque poema que é 
Poema, poema 
24 horas.

domingo, 5 de outubro de 2025

P R O N T O


I.

Como um canto
há muito ensaiado
Choro um pranto
impensável.


II.

Não seria uma
história se houvesse
ainda o engano
do ser forte, não era.


III.

Oposições apressadas
não eliminam a constância
do obtuso que extrapola
noite e dia

É possível estar sozinho
na sua companhia.


IV.

A morte passeia
de um para outra
e senta sua imensa
bunda sobre meu

tísico desassossego.

Com quantos anos se faz um pranto?


V.

Da vida muitos brotos
imensos cansaços
a graça esparsa-se
como um bocejo largo largo.