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domingo, 15 de setembro de 2024

Cansaço

Disseram bastante acerca daquilo que faria um homem tombar.
Detalhes foram prescritos, a envergadura, densidades, se chumbo ou aço, a diferença entre cervical e ser ou não já tarde. 

Disseram que o de um estava prometido, que o de outro viria no tempo certo, que uma coisa era uma e outra era, por certo, dela distinta. E disseram repetidas vezes que sim já sabemos. 

Sobre os barcos, cascos, dos cavalos, seus lemes, disseram a oeste e norte, que antes não era assim, que maldita tinha sido tão mutante sorte. 

Tarde teriam dito que a causa era da água, depois em rede nacional foram pedidas desculpas para gente tanta, todas já mortas, ainda assim, seguimos atentos ao concerto que se passa na cidade. 

Naquela casa escura faz duas ou três horas (quem saberia precisar?), dois homens dormem abraçados e um deles ainda sonha.

O ronco do que sonha em nada incomoda a paz do mais silencioso. São homens e se amam, a bem da verdade, de modos diferentes e parecidos, ora mãos dadas, ora mútuo espaço é bem-vindo.

Ali, os dois, tombados de cansaço, dormem em impressionante alegria, colchão, eita, vida, eita, vida, quanta delícia quando você chochila. 
 

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

O menino


Ele estaciona o carro no bairro de prédios
com no máximo quatro andares.

Usa bermuda e camiseta pretas
apesar do carro prateado.

Ele parece jovem e se porta
decididamente

ele cruza o pequeno portão
de um prédio

ao seu lado um limoeiro
imenso e verde verde

nas mãos ele segura
o telemóvel

Estou aqui
por onde entro
Você desce
eu subo
E então
Diz algo
estou aqui
Você onde

E o fantasma
em silêncio

se diverte.
 

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Amanhecer na cidade


Duas senhoras conversam
entre cafés, guardanapos 
e miradas à rua que corta
a avenida. 

As bolsas e os cigarros
um pão no embrulho 
um carro aguarda
parado. 

Um cão passa com
seu dono e não haveria
noticiário não houve
atropelamento. 

No entanto 
do lado de fora da cafetaria 
um homem barbudo
olha a barba de outro.

A cidade amanhece. 
 

domingo, 1 de setembro de 2024

Uma proibição

Uma indefinição tombaria sobre os segundos

Nenhum caminho adiante, assim pareceria ser

Conjugação forçada, errônea, ingrata sentença

Por ter havido uma proibição a vida não cessaria

tenha a santa paciência

*

O constransgimento não é sufocar

O perder não é morrer, não ainda

Caminho é coisa que se abre tal qual ferida

Há que confiar no futuro

como confias neste doer

*

No desnorte desta corte

No azar desta sorte

É com unhas que você escreve

Privado da solidão

dium umbigo

*

Privação seria isso

Proibir-se de esquecer

Que mesmo que doído

Não estás

não mesmo

*