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sábado, 18 de julho de 2020

Tarde

Ele decide, por fim,
sair de casa
Veste meias limpas
calça o tênis
abandonado na área de serviço
Num dos bolsos
um pequeno pote
de álcool gel
No outro
a lembrança
do que seria um celular
Por fim, ele decide,
sair de casa
Veste máscara branca
bermuda azul marinho
camiseta de cor indefinida
Num ventrículo
sangue
no outro
sangue também
Faz certo
é preciso
correr o mundo
correndo riscos
Sair de casa agora,
não como antes,
é uma tremenda ousadia
Ele sai, por fim,
de casa
Ainda um pouco de sol
um pouco de fome
um tanto de saudade
O que significa estar vivo
sem a cidade?
Sem os outros
as outras
outres
O que poderia ser
estar vivo?
Ele caminha
lento
como se a cada passo
voltasse no tempo
regressasse à infância
pré-tormento
Ele saiu de casa
Por fim
onde está ele agora?
Jamais saberíamos
ele caminha
não poderíamos saber
ele anda
lento
Fora de casa
o resto de sol na pele
a lembrança de ser vivo
e
em
movimento.

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