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quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Buraco na comunicação

Não, não desculpe
Não, não outra vez
Não desculpe
Não continue
Não era para ser assim tão imperativo
Não

Acontece que não é a primeira
Não é novidade
Não é ausência de saber prévio
Não é nada disso
Você sabe, você sabe, então
Não

Você fez a escolha
Você fez péssimo uso da nossa intimidade
Você fez nascer outro poeminha
Moendo o horror da amizade
Você fez esse poema
Este poema é de sua inteira responsabilidade

Em mim brotou um cansaço
Que força maior não poderia ter
É cansaço bruto, parrudo, cheio de glúten
É cansaço puro, mas honesto
Não cínico como seus provisórios
Ajustes

Ok?
Perdão, ok?
Vamos falar?
Vamos falar ok?
Vamos falar, ok?
Vamos?

Não.

Você não disse.

Você não veio.

Você nada falou.

Você me feriu
E no ponto em que cheguei
De você
Sobrou apenas este
Horror (da amizade).
 

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Escasso


Das imaginações
sobre o que viria
depois do corte

nada veio.

Das hipóteses
especulações essas
palavras bonitas

indicativas de possibilidades

também não.

Estava tão preso
no hábito
que desaprendeu
ser sonhador.

E quando perguntado
se ele imaginava
para onde iria
caso tudo acabasse

ele desabou.

No chão
onde mais
onde iria
onde estou?

O amor também tem seus sonos

Uns duram mais do que os dias

Outros também.
 

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Transfer.


Não despejarei sobre ti meu insensato desespero
ele fede à peixe azedo.

Nem apontarei os dedos que tenho e outros que compraria
nenhuma justiça é assim tão sem curva.

Não aceitarei simplificações
Não cederei à possibilidade de um eventual sono tranquilo

Sou todo desassossego.

Essa trama
– meu desespero –
antes de dores
diz que estou

vivendo.

Encaro a dor
ela diante de mim
não em meu colo
De pé estamos

E ela soa tão breve
quanto uma amizade
que era eterna e
subitamente findou.

Noutras telas
hei de cuspir
essas mágoas

e assim
quando de mim
for removido
o que me remói

voltarei ao seu rosto
para dizer-lhe
coisas
bonitas

e gostosas.