e o asfalta queimou
e as formigas transeuntes
entenderam a necessidade
de colocar chinelos
para atravessar o forno
a céu aberto.
Tudo assim, muito claro
dia claro, não houve dúvida
apesar de uma ou outra
outras mil
terem morrido
até entenderem
que só com chinelo nas patas
se podia atravessar o negro deserto.
Então veio a lua
e esfriou a pedra
e outras mais morreram, as formigas
porque com chinelo nos pés
não havia como correr depressa
e era noite ainda
e os carros com faróis apagados
as pisoteavam
as pisoteavam.
Foi tudo assim
elas entenderam
que de manhã era cruzar pista calçadas
e à noite
depressa e caladas
pés no gelo preto e frio
do asfalto já quase amanhecendo.
O corpo se acostuma
a cada coisa.
E morre, o corpo morre
toda vez
que é preciso se desacostumar
com o que quer que seja.
Formigas morridas
sol e lua, noite e dia
Eu ainda me sinto meio com os pés no chão
meio descalço
Cruzando pistas quentes e medos vagos
desaprendendo a andar
desaprendendo o amor
para novamente
num súbito
Ter que aprender tudo de novo
porém noutro lugar.
Faz bem mirar as formigas
quando a vista desaprende
a olhar.
Restou tudo acostumado?
Mire as formigas.
Elas prescreverão
os próximos passos.
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