Pesquisa

terça-feira, 30 de junho de 2015

Say You Love Me

And this is the name
Of our song
No fear
'Cause what we're feeling
Maybe it's love
Maybe it is.

Your mouth
Touch
All of our skins
What name do they have?
Love.
Maybe love.

So glad.

Won't you stay?

How hungry can we be, isn't it?

Ok.

I don't wanna fall in love.
I don't wanna.

But all I'm thinking of
Is you.

So

Let's fall in?

I'm here
For you
For us

For me.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Por mim

Sim.
Você aceita?
Eu disse sim.
E então nos casamos
Eu com o Mundo.

Porque sim.
Porque percebi.

Quando guardada em silêncio
A solidão, eu ouvi
Era só o meu medo
De usar meus desejos.

E então saí.
Toda aberta.
Para fora de mim
E me ralei no Mundo

E agora eu repito:
Tudo porque sim
Apenas por isso

Por mim.

Condição.

Se como ontem
Assim você quiser chorar
Que seja em composição maior
Sob o óculos escuro
Mas entre as nuvens
Num avião cruzando
Terra e mar

Que seja maior
Caso queiras chorar
Seja então redimensionado
Pela força do vento
Pelo real inevitável
De algum risco
Caso andando em rua escura
O choro lhe venha fácil
Como fosse um riso.

Eis a condição,  caro amigo
Que o seu umbigo seja ponto
E não porto capaz de forjar
Covas e vastas depressões.

A dor não é sua apenas
E não também de todo alguém
Sua dor é do mundo
E assim como ontem
Quer ser brincada
Em terreno maior
Que não só seu peito.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Duração

Pode até ser
Que o gosto só chegue depois
Quando tiver passado
Algum silêncio.

Talvez seja instantâneo
Ainda que não repleto
O gosto pode vir direto
Sem pedir licença.

É preciso gostar
Mais que do gosto de gostar
Mas sobretudo
É preciso cultivar sua ausência.

Quando a boca estiver seca
Saiba ser essa sua condição
Talvez não possas cantar
Talvez sequer poderás com oração
Mas fato é

A língua demanda transformação
E logo o gosto muda
e a angústia vira criança
Porque não é mais possível
nessa idade
Não compreender que é preciso tempo

Dar tempo
Para no gosto do pavor
Se transformar em abraço
(ainda que ao relento).

Compreende?

Não se trata mais de entender
Mas tão somente de sorver
Sentir
Verter o corpo todo
Rumo ao inevitável
Que é a enzima

Desejo de comer tudo
Desde o morango daquela tarde fria
Até o silêncio oco de alguma partida.

Dê-me tudo, oh, mundo

Tenho fome.

Você é desses que cheiram?

Sim
Eu sou
Desses que cheiram
E medem o amor
Pelo perfume.

Não
Espere
Não é bem isso
Quando digo perfume
É tudo
Menos perfumaria.

Perfume é o cheiro
Dentre os seus olhos
E na esquina
Ou vizinhança
Da sua sobrancelha esquerda.

É perfume também a leveza
Da sua barba do lado esquerdo
Tão distinto do desenho
Da barba à direita.

Perfume também encontro na nuca
Sobretudo encontro perfume seu
Perdido entre as curvas da orelha
No ânus
No peito
No pau
E sobretudo
No veludo das mãos.

Tem perfume onde há entrega
Tem peito só quem tem coração.

Honestidade
Fábrica de perfume.

Nunca havia percebido
Mas só tem perfume
Quem não precisa importar
Cheiro de fábrica.

Perfume
Cheiro
Da alma.

Cada toque sobre o meu corpo

Eu registro.

Para não esquecer
da imensidão que é o íntimo.

Os braços parecem elásticos
conseguem hoje mais que antes
Compor muitos e muitos laços.

Seria mentira não reconhecer
mas o seu abraço é mais vasto
Seu sorriso apesar de pequeno
é mais solar.

Já é quase manhã
e meu corpo a ti responde.

Haveria algo de mais precioso
do que este instante?

Dissemo-nos ao mesmo tempo
"nos falamos".

A continuidade deste instante
é possibilidade remota
Mas concreta.

O desejo se realiza ao dizer
"estou quase ".

E o lá chegou
em mútuo abraço
E hoje já é quinta
e amanhã não saberemos.

Sem ouvintes
preciso confessar
Encaixou tudo
Tudo encaixou

E por isso
apesar da noite e do vinho
Sou só sorrisos

Apenas isto.

Sorrisos.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Repente

Não desenrolou.

Tudo preso
na beira do olhar.

Um tempo assim
suspenso.

Nova tentativa
e nada.

E então a angústia
foi por nem ir
nem sequer ficar

tudo inoperante.

Quem dera soubesse o motivo
desta angustiante.

Mais uma vez.

E nada.

Outra.
Nada.

Perceba:
és o que tinha.

O nada
Este instante
Sem nada
nem lágrima
nem tiro

Só isso:
durar no silêncio tremido
da imprecisão.

A vida
num repente
É só confusão.

Eis aí
sua mais tenaz confissão:

não nasci para ser bonita.

Aguente-me.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Já que você insiste em me chamar de amor - Parte 1





Passado alguns meses, de maneira convicta, ele ponderou: este talvez seja o momento de ultrapassar a mesmice desse meu gesto e começar a fazer diferente. Sobre o que ele está falando? Vamos com calma. Sem pressa. Ele está sofrendo de amor, por isso, aqui, cada linha será feito uma gota lançada no oceano. Gotas que não farão diferença durante um longo tempo até que, num certo dia, serão grossa e caudalosa onda.

Esse meu gesto de não compreender o evidente. Esse meu vício de dizer que compreendo mas de caminhar aos tropeços, como se para sempre estivesse doente. Não quero mais. E ele se dizia essas coisas com uma convicção assustadora, quase impossível de quebrar. Anda. Faz alguma coisa. Ele se dizia. Solto e avulso em sua solitária sala de estar.

Ele sou eu, cara leitora, caro leitor. Isso é evidente, porém, é preciso frisar: ele é ele antes de me ser. Porque é sendo ele, é escrevendo o nome dele e não o meu, que eu me modifico e faço dos meus desejos e angústias outra coisa que não o mesmo. Sim, eu estou usando ele para conseguir me ser. Eu uso a ficção para me consertar, para me confrontar e me amadurecer.

Dito isso, ele pensou, já tantos meses, não é possível que ainda não tenha cessado essa dor. E colocou uma mão sobre o peito (estava sem camisa). A mão sobre o peito, terreno baldio, ele sempre assim se reconhecia. Eu, terreno baldio, feito página em branco para todo e qualquer desastre. O que ele desejava - e que nem bem sabia - era justamente fazer de si objeto de estudo. Ele queria acreditar que para além do vivido, existia alguma coisa em seu percurso capaz de o impulsionar ao adiante. Precisava haver (e eu escrevo apenas para ajudá-lo a se encontrar, a se compreender).

A mão no peito. A noite escura e fria, agradável, ele gostava da noite assim. Silenciosa podendo ser barulho, escura podendo ainda assim ter algum brilho. Pegou o celular sobre a mesa e ponderou, novamente: eu poderia ligar. Poderia mandar uma mensagem perguntando: está podendo falar? E então o que viesse depois não importa prever. Devo eu me manter na distância ou devo, de vez, me complicar, me puxar o tapete, me contradizer?

Suas perguntas habitavam a atmosfera da solitária casa. Os livros de filosofia, dispostos nas prateleiras, pareciam querer se abrir e lhe fazer algo compreender. Mas ele não tinha olhos tão assim abertos, porque no instante em que mirava o fora, o dentro lhe pedia atenção e o dividia: ele tinha sempre que mirar o fora perdendo tempo com o próprio desassossego. Ele estava carregado, estava até mais velho, o rosto mais marcado, a coluna mais dolorida, os sonhos meio já gastos, a esperança curta e a face, quase sempre, sombria.

Mesmo o mais sensível dos seres humanos que já conheci, mesmo ele, ainda assim, certa vez não conseguiu fazer conversar a consciência e o coração. Cada um falava uma língua e a comunhão nunca foi realmente possível. Ele se angustiava ao perceber a clareza da cabeça que, num segundo, era calada pela batida do peito, pelo nervosismo das mãos. Não havia jeito. Seria mais uma noite carente de abrigo. Seria outra noite no mesmo esquema: beber, fumar, dormir, tentar sobreviver ao instante-soluço.

Nem sequer chorava. A face seca, mirando a fria noite, ouvia desatenta as músicas em repetição desenfreada. Percebia, num momento, que o seu gosto pelas coisas havia se perdido. Nada importava tanto mais. Estava avulso, solto, sem porto onde deitar. Sem abraço onde pudesse durar. Quis chorar, mas nem sequer conseguiu (nem sequer fez força). As coisas todas estavam assim fazia já um tempo. E então ponderou, novamente, ponderou: o que eu estou vivendo é só essa chateação. Não que seja pouco, não que seja qualquer coisa, mas é só o que tenho.

E ficou na noite entretido. Sem diversão, sem devaneios, estava tranquilo. Aquilo que sentia, tudo o que estava vivendo faz meses nada mais era do que a certeza exata e límpida: estou doendo, estou chateado, não sei lidar com o amor, não sei o que fazer de mim e, no entanto, parabéns (ele se disse), parabéns por se permitir viver isso (sem trapaças).

Eu vou sair do lugar. Eu já estou saindo. É que demora a se perceber indo, mudando, reagindo. Eu ainda estou todo hábito. Eu ainda não tenho autonomia. Tudo hoje existe em função do que vivi um dia. Eu ainda não me desgarrei do amor, das coisas todas, eu não me livrei do amor que partiu, eu ainda estou em dívida. Eu estou ferrado. E uma dor que nem sequer doía, um incômodo o abraçava por inteiro. Se duraria uma noite e mais tempo, nem importava saber, pois o fato era claro: eu estou vivendo essa tristeza.

Ela é minha. Ela mora comigo. Eu não tenho motivo para me dar jeito porque assim é como eu estou. Isso é meu. Não seja covarde. Isso é tudo o que você tem. Então dure nisso, fique, dê as mãos ao inevitável. Você está doendo, você está certo, convicto, cheio de dúvidas, mas seus passos estão aqui, estão sendo dados. Não há saída. Parabéns. Assuma-se. Parabéns por se permitir. Não vai ser mais fácil, mas, pelo menos, você está sendo aquilo que acha ser: um punhado de aborrecimento andando à luz dos dias e concentrando-se, feito pedra que sente frio, no interior de cada noite.

Por hoje talvez seja só isto. Eu estou de olho nele. Eu estou mirando esse rapaz já faz um tempo. Ele é hábil, ele é sábio porque não quer esgotar a vida. Ele é maduro porque não espera respostas. Ele existe porque sua dor abriu espaço em seu peito e ele a regou, periodicamente, todos os dias. Nem sequer ele fala a palavra poço. Ele não está afundado, ele está apenas se vendo em outro momento, com outros contornos, perdido em distintos traços.

Prossiga, menino. Você é novo ainda e já com habilidade de velhos e seres já não tão meninos. Você tem corpo jovem mas voz de quem já declamou épicas e romances inteiros. Você não é fácil de enganar e, portanto, isto que estás a viver, é saldo de quem você é e foi durante todo esse seu curto tempo de vida. Que nem é tão curto assim, ele me contradisse.

Ele está agora na área de serviço de seu apartamento. É noite lá fora. Não há estrelas. Uma taça de vinho repousa ao lado das flores do seu pequeno jardim. Ele acende um cigarro. Ele mira o céu. Ele deseja que o seu amor, seu antigo amor, seu ex-amor, enfim, ele deseja que lá onde ele está agora, possa existir junto a um sorriso. Que ele esteja leve (ainda que não seja assim comigo, ele se diz). Ainda que não seja igual para todo o mundo, você está vivendo isso agora. Compreende?

Ele não me responde. Ele nem sabe que eu existo. Ele ainda vive o calor do momento e sequer compreende esses assuntos de espírito, de reencarnação, de física quântica, ele ficou um pouco cético depois que o amor veio, fez cabana dentro do seu peito e, na manhã seguinte, partiu sem avisar.

Ele está moído. Mas é noite ainda. E depois da noite todos sabemos o que virá. Ele também sabe. Virá outra manhã. Outra noite. Outro amanhecer. Outro amor, quem sabe? Nenhum. Nada. Ele restará seguro na sua solidão intensa e insatisfeita. Ele não sabe mais o que veio fazer aqui, ali, neste mundo. Mas ele sobrevive, de pé, de cueca, sem camisa, sentindo na pele o frio que hoje há para ser sentido.

Ele está do lado de fora. É isso. Hoje ele permanece do lado de fora. Mas amanhã, ou logo que possível, eu o levarei para passear.

sábado, 20 de junho de 2015

Natureza

Independe

Sobrevive

Continua

Imperativa atua
presença sem alarde
lembrança sem festa

Bom dia

Assim foi a vida
sem que fizesse força
seguiu sem ti

E agora, Diogo?

A festa acabada
estalares de pescoço
perfume na nuca
você estava andando
ainda que sem ver rosto outro
Quiçá o do tempo.

Bom dia.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

01 diário

dia dezenove de junho de dois mil e quinze.

nietzsche nasceu no mesmo dia que eu.

mas morreu oitenta e sete anos antes de eu nascer.
morreu nietzsche em mil e novecentos.
eu nasci dois anos antes do muro de berlim falecer.

                                                                

por que me seduzo tanto a isto?

por quê?

haveria explicação que não o amor por você, oh, poesia?

que possibilidade é essa que você me oferece?

que coisa!

que coisa linda!

que bem linda coisa mais linda!

                                                                                                      

estou cheio de cicatrizes.

mas o mundo também está.

não é sobre mim.

não deveria ser.

eu reflito parte do mundo.

eu sou apenas um punhado de matéria.

eu não tenho mais jeito.

                                                                                                                                                                                                                        
                                                          

marco em fotos, para não esquecer.

e mesmo que esquecesse, o verbo continua.

haveria conjugação possível para tamanha tontura?

algumas perguntas persistem.

e eu persisto junto.

eu, sempre eu, sempre tão fora de mim.

apesar das redundâncias.

rede aberta.

deep web.

eu conheço aquela coisa.

e então ele me disse:
não quer ficar?
eu disse:
não mesmo.
ele me olhou.
eu já estava a olhá-lo.
e me perdi
(não nele)
mas na conjugação dos verbos.

eu nunca sei em que tempo verbal devo estar.

deverias mesmo? ir?
ele me perguntou.
eu sorri.
ele sorriu.
nós sorrimos.
e depois só silêncio.

um abraço
um repentino abrigo
a poesia foi tramando
as partes
dos nossos corpos
e fazendo rima

meu abraço no dele
meu peito no dele
o dele no meu
mão nua na nuca
ele me ofereceu

um arrepio

era ele mesmo?
deveria sê-lo?
nunca me perguntei tais coisas

ainda estou perdido
tentando trocar a tinta da impressora

um silêncio
outro
sexo?
sim.
não?
eu disse sim.
ele sorriu
e eu fiquei mudo.

por que sempre ele?

e então ela surgiu
abrupta
não querem trocar o cd?
eu disse que não era cd.
ela disse:
a música
não querem trocar?

não queríamos
e ela se contentou
ficamos ouvindo a mesma coisa
a tarde inteira

e então foi isso
nada mais se passou
os beijos cessaram
e entendemos que aquela tarde
era aquilo ali

uma ficção qualquer
mas sem morte
sem drama
sem fim
sem nada
exceto: CONTINUAR

juntos

E reunidos.

foi lindo.
é lindo.
está sendo.

Preparação

Estou um pouco embriagado.

A barriga não tão cheia.

A música já rolando
faz minutos.

Estou pronto
para me fazer violência.

Exige um tempo.

Exige tomar chuva
no corpo
na cabeça
E depois
quando em casa
não se enxugar.

Deixar as gotas secarem
como que convidadas
a ficar.

Em mim
ficar.

Fiquem, gotas
Podem ficar
Eu estou aqui

e sua umidade
é minha companhia.

Eu estou pronto.

Eu vou terminar estas linhas.

Eu vou acender outro cigarro.

O vinho ainda eu tenho.

O silêncio é meu maior hábito.

Tudo certo.

Vou começar a escrever
outra coisa.

Outra coisa
mas, ainda assim
Violência.

Violência.

Eu seria assim

Sem chance de mudança.
Viveria durante uma vida inteira
sob o cobertor
esticando o corpo
apenas rumo ao café
aos livros e a eventuais
Danças.

Seria perfeito.
Seria preciso

Erguer-me
e plantar na terra
o resto o lixo
Eu seria assim
um silêncio com pernas
Olhos.

Minha reza seria fé pura
porque confiaria no desfiar do tempo
Sobre meu corpo
e minha juventude.

Os amores
Seriam apenas
Temas de romances.

A vida seria avulsa
Tal como a abelha
Que me espeta
E parte
Sem adeus.

Melhor assim.

Crescer sem show
Na distância
Seria a melhor opção
Viver
Ao invés de ser.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Nome ao Boi

Não custa ser sincero.

João,

sobrou seu nome
e um resto de amor.

João,

o fato hoje é claro
você foi, abandonou-me.

Tudo certo.

Os dias vingaram
sobrevivi fazendo força
e com tenaz descaso.

Não tive medo de morrer
e veja: ainda estou aqui.

Não escrevo para que você me leia
não escrevo crente na sua atenção
Escrevo porque um dia me reconheci sincero

e assim como o orgulho para alguns
Desta minha sinceridade

NÃO ABRO MÃO.

escrevo em caixa alta
ESCREVO EM BAIXA ESCALA
tudo certo,

você veio
e de mim se foi
duro e difícil
é aceitar psicanálise

por isso escrevo, guri

escrevo para continuar escrevendo meus passos
escrevo para continuar vivo antes que o fim me abata

E ele virá.

portanto,
joão,

farei inda mais e mais versos
assim como darei passos e desviarei nossos mútuos trajetos

não quero te ver
não quero te saber
sobrevivo como fosse você apenas um fantasminha
nem sequer camarada
fantasma que um dia de súbito
por querer próprio
se fez em mim apenas isto

escombro
resto
quase nada

fantasma

tudo certo
nada pejorativo
você me foi lindo
eu lhe fui o mais possível

mas hoje
seguirei em laboratório
transformando a firmeza do meu amor por ti
em descaso
em término
em fim
em nada
nadica de nada

Não foi isso, aquilo que você me pediu?
que eu te odiasse o mais depressa?

demorei
demorou
mas veio
chegou

Penso em ti
e meus pés seguem firmes
Sua memória hoje em mim
é arroto do passado
é apego à mesmice

me desinteressei por completo
(para não ser general
confesso:
desinteresso-me quase por inteiro
quase
porque sempre sobra uma ruga nos olhos
uma verruga próxima ao peito
sempre um pelo de gato
que me causa tremendo desassossego)

mas,
cara,
o que fazer?
o que posso fazer?

VOCÊ SE QUIS LONGE DE MIM
você me abandonou
(não negue!)
foi isso o que aconteceu

lembra?

EU PULEI A PRIMEIRA ONDA DO ANO PEDINDO POR NÓS DOIS
enquanto você nos naufragava em mesma onda

que merda!
que infância crônica!

que vício no ser sempre menor e ter sempre que mais do que se é se ser.

tudo certo, guri

vai lá
vai longe
você um dia será capa de revista
(e me repudiará por isso)

mas eu já me acostumei a ser por ti repudiado

eu aprendi
a ser servo usado
a servir sem rastro de gesto capaz de retribuir o que lhe dei com amparo

tudo certo.
sem rancor.
sem nem mais seu roncar.
hoje

eu

me tiro do jogo
porque a infância para mim
ficou no passado.

tudo certo.
finja
tudo está certo.

a vida dará jeito no que ainda hoje não pudemos compreender.
ou não
ou não, rapaz

ou não.

Para que isto me serve?

É tudo um jogo de projeção
De reflexo
e nisso
Jogo de reflexão.

Lanço ao fundo branco
o transtorno
Faço um desenho turvo
daquilo que me é
daquilo que sinto
Neste momento

e então
Tudo é já afirmação.

Tudo me representa
cada verso
cada salto
todo o sim e todo o não

Talvez
eu pense: seja esta minha terapia

Ver-me no fundo branco refletido
vendo minhas espinhas em letras miúdas refletidas
vendo a vida se refazendo
e as rugas se desenhando

em expressão clara
e destemida.

Isto me serve para estar vivo
serve-me isto apenas para o jogo
no tempo ágil
do gesto feito e vivido

Para quê?
Você me pergunta.
E eu já inventei um interlocutor

Pois você
não é você, meu amor

Você é só alguém que me serve
para me desfazer e refazer
Quando envolto
neste constante
E tenaz
torpor.

Você é alvo fácil para o amor.

Você é toda e qualquer coisa.

Você é tudo menos alguém.

Você é procedimento
para poetar
Minha existência.

Sim.

Perdão.

Seja o nome que vier.

É tudo ainda poesia
de décima
décima segunda
ou vigésima

categoria.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Nascem pelos dentro do nariz

E passado já algum tempo
Observo
Que querem os pelos
Que o crescimento
Não cessam?

Querem dizer alguma coisa.

Aonde está você?

Voltou da Itália?

Era na Itália, não era?

Cresceram mais pelos
Dentro de mim
Saem pelo nariz
Estou te ouvindo

Foi bom te rever hoje.

Só não entendi aquela parte

Perdão
Acabei não perguntando

Como era mesmo?

Aquilo que você me disse?

Eu me esqueci

Mas foi
Ouvi
Você disse
Esqueci

E, no entanto,
coloquei o polegar e o indicador
Dentro do nariz

E lá de dentro

Trouxe um pelo imenso.

Ele morreu
Em minha mão
Foi no vento

E cheguei em casa
Ainda a tempo

De lavar suas mãos.

Que gesto lindo é esse de lavar a mão do outro.

Quisera eu ficasse no gesto
E não nesse sonho.

Chegará o dia
Em que surfarei na depressão
Das rugas
No inflamar
Das espinhas.

Ele me disse.
Ela repetiu.
Como era mesmo?

Sumiu.
De mim
Sumiu.

Fragmentário

Não, não li tudo.

Não vi até o final.

Não entendo exatamente.

Vi só o início.

Ouvi alguma coisa.

Provei um pedaço.

Só um dia.

Quem sabe na próxima?

Já ouvi falar.

Não, apenas o de chocolate.

Sei...

Enfim...

Só um pedaço.

Eu acho que eu sou assim.

Meio.

Meio do caminho.

Nada inteiro.

Apesar de cheio
De repleto
De pleno

Sou fragmentário.

Metonímico.

Nietzsche, amigo...

Parabéns para nós 3.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

O pior que me habita

Satisfação
Por ver dependências
Gritando por meu corpo
Gratidão
Por depois de mim
Continuar certa relação
Orgulho
De fazer e regar
Diariamente
O mesmo estrago

O que de pior me habita
É a certeza de ser egoísta
E ao mundo
Não oferecer nada
Além disso.

O pior que me habita
É essa demanda que tenho
De precisar ser amado
Aplaudido
(e mesmo iludido)
Ser devotado.

O pior mora na ponta dos meus olhos

Na brancura azeda do meu sorriso

Na barra da calça dobrada

No perfume de primeira

Na roupa feita
por escravas crianças

Meu pior sou eu quem carrego.
Eu quem autorizo que o pior
Seja meu corpo.

A sinceridade é revolta que destrói os tempos
E hoje eu ainda me faço acoado
Me faço inda hoje
Refém dos tempos.

O meu pior é que eu gasto tempo
Olhando para ver se me olham.

O meu pior é que vou me plantando
nos outros
Para depois de fugir
voltar o olhar para trás
E reconhecer:

Mais um que precisa de mim.

O meu pior
Sou eu
O fato
Que não abre
Mão
de si.

Dobra e vinco

Violino
e
Vértebra
de um amigo

Ele estava com um pouco de tudo

Ela não é uma das melhores coisas

Rispidez
de
Principiante.

Garrafa de vinho branco seco e você.
Você pode me ajudar?

Cessar perguntas
E respostas sobre o tema deste ano

Naufragar.

Sem permissão para fazer um comentário.

Morrer sem
Juros no meu coração

É então
não é um bom tempo
Seja o primeiro dia de hoje
é o sinônimo de qualidade e segurança
do seu lado

Petisco da minha companhia.

Derivar-se em abismos

A fronte quente
O dentro frio
À frente o abismo
Cuspindo fogo
E guardando o vento
A ser perfurado
No seu salto

abandono.

Que tipo de comportamento?
Que tipo?

Calor
Gélido frio
Peito e queixo
Abraço
Em abismos

tombar

vinte anos

um homem

como este
como este

Que tipo?
De abismo
Quer tu nele
se perder?

Implora
Contra a parede
e a dor
de garganta
e por causa de um carinho

Sua escada
Dança

Abismado.

domingo, 14 de junho de 2015

pode um homem domar o seu tempo?

Daqui onde eu estou, o sol me pega meio ao meio. Mas é um pouco frio aqui dentro. Ainda que eu mesmo seja o responsável por definir a temperatura deste ambiente. Faz pouco tempo, eu percebi que controlava também a altura da cadeira na qual me sento. Eu estava bem perto ao chão e, agora, meus pés estão soltos no ar.

Daqui onde eu estou os lençóis brancos estão mexidos. Os quatro travesseiros estão amassados. Parece escultura. O frigobar está fechado. A pequena bandeja com bombons está intacta. O telefone no gancho. A caneta sobre o papel. E apenas a fumaça do cigarro, meus dedos e olhos, é que se mexem.

Daqui onde eu estou eu observo: pode um homem domar o seu tempo?

Eu, bem daqui onde estou sentado a ver o tempo passando, eu me pondero:
o que seria preciso fazer para poder ver a vida dessa forma, sem correria?

Tísica ironia. Foi me gastar escrevendo sobre o desejo de controlar a vida que o cigarro em mãos se consumiu em cinzas e sujou todas as letras.

                              

A vida é mesmo fumaça impossível de capturar.
Só o que resta entre meus dedos agora, são cinzas.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Dia dos Namorados

Amanheceu nublado

Sem sol nem canção

Não que houvesse tristeza

Mas alegria houve não.

Amanheci com sede

Não comi nada

Arrumei a mala

E viajei.

Também aqui nublado

Alguém que pergunta

Como você está?

E então falamos sobre você.

Que estranho

Vontade estranha de te abraçar

De lembrar o que era aquilo

De nos termos um no outro.

Dia estranho

Mas que passa

Um leve luto

Mas sem luta

Sem jogo

Sem desgraças

Eu estou aqui

E você um tanto lá
(onde não sei nem quero chegar)

É a distância a expressão do nosso encontro.

A distância é uma foto de nós dois.

Haveria outra possível?

Creio que não.

É tudo certo.

Você continuará querendo ser amigo

E eu tentando te transformar em desamor.

Foi isso o que nos restou.

Um dia nublado que já dura há meses.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Sem Moldura

Mais fácil seria
Se o homem sob o foco
Se fizesse de inteligente.

Mais belo seria
Se o homem fotografado
Quisesse ser crente.

Seria melhor
Se o homem
Existisse.

Seria sério
Se o homem
Fizesse protestos.

Mas não.

Hoje não.

Nem amanhã.

Certa doença
Desqualifica
Os atos heróicos.

O homem sob a foto
Hoje escapa
Da moldura.

Seus sonhos não cabem no quadro.

Suas dores tensionam os vértices
As lâminas
Ele é liminar.

Meio do caminho
O homem atrás da barba
Ali está.

Contente-se.

É-se menos só por imaginar?

Pergunto
Já querendo afirmar.

Se é menos
Só porque o ser que se é
É mais presente em imagem
Do que em realidade?

Se é menos
Apenas porque quem sou
Sobrevive melhor desenhado
em imagens
Do que no dia a dia?

Estranha demanda por corpo
Mesquinha exigência do realizar

Não

Não sou menos
Por não corroborar com a realidade
Sou
Sem desfecho
Sigo sendo
Ciente de que ser
Inclui nisso também

Os sonhos
E suas imagens
Pois se digo que sim
Por que o não haveria de me desbancar?

Não.

Estou à serviço dos enunciados que criam mundo apenas pelo simples jogar de palavras em meio ao ar.

Acredito no seu poder de vôo
E na síntese de seu pousar.

Aquilo que escrevo
em texto ou imagem
Desde já
Acontece.

Sempre que escrevo
Em texto ou imagem
Já estou fazendo
Sendo e vivendo

Já me condenei.

E sigo nisso repleto.

Aquilo que se tem

Em mãos
Trago o que restou
Sou eu
E tudo aquilo
Ainda não
Vindo.

É tanto
Que converso
Sozinho
Comigo.

O peso entre as mãos
Dissipa alguma perdição
É que tudo já tanto se gastou
Que ter esta densidade
Afagando os dedos
É puro tesão.

Ouço músicas que não conheço.

Namoro o calor do sol.

Danço mais do que represento.

Tudo se multiplica
Quando o que se tem em mãos
É também a consciência
Que te enzima.

A janela foi se fechando e senti calor.

Demorei um tempo
No calor
A perceber
que basta abrir caminho
Para se refazer.

Hoje
Como antes
E amanhã

Tudo é preciso.

Sento sobre silêncios e sexos soberbos.

Impaciento-me intensamente implicado em imergir e lá ficar.

Vasto mundo.

Eu o vejo
Eu o ouço
Eu te esponjo

Eu estou aqui.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Ontem encontrei com Ovilia

E como está mudada.

Esta mais fina e pontiaguda
Mais cimentada.
Mas ainda assim
Seus cabelos.

Ela esvoaçante.

Se falando sobre o sitio
Sobre aranhas ou sobre o roubo
De quilômetros e quilômetros
Da fiação de luz

Tanto faz.

Enquanto falava
Olivia reluzia em luz
sem sombra.

Uma paz no gesto
Mútua confiança
Ela nela mesma
Os sonhos na moça presentes.

Bom te rever.

Ótimo e lindo é a vida.

Num salto
De Ovilia
Conheci Andersen.

Que lindo.
Que lindo.
Que momento
Que instante

Sinto-me repleto.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Hipótese. Achismo. Certeza.

Envelope

Abriu o envelope.

O que havia dentro
era apenas papel
Apenas palavras
grafadas em cor
Vermelha.

Não houve susto
arrepio
Nem prévia preocupação.

O que hoje houve
foi fato
Resignada convicção
não teve tristeza.

A certeza se firma
dia após dia
O fato duro de pedra
vira alegria.

Por estar vivo ainda
e por saber que o caminho
É esse mesmo:

desfiladeiro de aberturas
abrição de impossíveis

E mais uma vez
Hoje

Ousou olhar o passado
inda não tão distante
E abriu o envelope:

uma carta
outro punhado de palavras
o desenho de um coração
um garrancho escrito à mão

Uma foto passada

Um cartão postal

Um tempo
hoje inerte em memória.

E fechou o lacre.

sábado, 6 de junho de 2015

Persistir nas horas

Sem pretensão
Sobrevivo em martírio
Não pretendo fim
Ao que me parece
Infinito.

Sempre que minha cabeça
Reclama
Eu a digo
Vai ser assim, colega
Pode até reclamar
Mas não faz drama.

Aceitei.
Resignado estou.
Você me participa
Até o dia em que não perceberei:
você terá partido
Sem sequer adeus.

Mas
Por agora
Eu ainda tenho trabalhado
Com a sua presença
Adentrando em mim.

Eu te dei o meu melhor
E não bastou para ti.

Tudo certo.
Tudo bem errado.
Não quero dizer o fato mesquinho
então
Tudo certo
Tudo em ordem

Pena não ser sobre estar com outro alguém
Pena não ser sobre trocar você
Por outro
e não é.

Eu te amo
E hoje
Infelizmente
Não vejo previsão
De fim.

Veja
Profundo
O que você foi causar
Em mim.

Escrevo sozinho

Sem obter resposta

Não é bem uma pergunta

É o que foi nossa história:
diálogo com pouco interlocutor.

Você me amadureceu
Mas seguiu infantilizado.
De repente
No futuro
Eu reconhecerei o seu salto

Mas por agora
E talvez por bom tempo
Serás ainda o filho do pai
Intolerante à falta
E aos desassossegos

Serás ainda para mim
O riquinho mesquinho
O iludido cheio de si
O besta
que não percebe ser já incrível
Porque guloso
Queria ser mais do que é.

Sei que você não aprovaria minhas palavras.

Mas você não está mais aqui
Então minhas palavras podem sim
Ser
O que quiserem ser.

E assim
Amanhã
No depois
Quem sabe
Eu te pedirei desculpas
E então
Nova comunhão começará.

Mas não
Não espero por nada
Que não esse silêncio horrível
e retinto.

Te amo
Já nem amo
Mas por força do hábito
Que nos assassinou
Te amo
Apesar de você
Não ser mais meu único amor.

Que tristeza.
Que tristeza isso que nos causamos.

Violin

I don't have the exactly words

I don't think I can be save

I am fine

Thanks for ask

But I keep wondering

Why is this happening to me?

If there is a reason

I need to know

Because I was loving him

And now there's only pain
and hurts

I don't know why, but

Seems that what you did

Was the most terrible thing

Someone could do

And you did

And now I'm living my days
with you so close to me

All day

Hit me out now

Hit me out, baby

Antigos pesares


Retomou a confiança
Parou de acender cigarros
Confiou no tempo
e em todos os clichês
sobre a vida
e tantas mortes.

Tomou banho
Escovou os dentes
Usou fio dental
Escovou novamente
os dentes
Tudo em ordem
Tudo no conforme
tudo habitual.

Cruzou a avenida
na faixa de pedestres
Abriu espaço
deixou que a rua passasse
que as senhoras e seus cachorros
mijassem no chão
Não fez alarde

Era tudo normal

Nem sequer caminhava
munido de antigos pesares.

A profusão de pensamentos virou memória.

Andou retinto
limpo
Lindo
andou pleno
mesmo que soubesse
estou a andar sobre abismos
Seguiu
confiante
(não bem em si)
Mas no instante
na possibilidade da vida
se refazer
e de súbito
Virar coisa possível
coisa menos a ele
angustiante.

Numa esquina
um beco de rua
Um pedaço de cidade
uma zona terna e cinza
quente e escura
Se sentou

querendo ver estrelas

Era dia
era quente
Hoje é dia
estou doendo
Se disse
Sem tempo para ponderar
o coração

derretendo
dentro
de
si

E pegou fogo
sem que ninguém o pudesse socorrer

Se estava cansado
se era estafa
Jamais saberemos.

O homem pegou fogo
e com ele
Morreu também sua agonia.

Obra de Thomas Mailaender

Pudesse um homem





Pudesse um homem
desenhar aquilo que sente sem saber
Tudo aquilo que escuta
sem nem bem ouvir
Pudesse escrever
sem palavras
sem caneta
nem papel

Pudesse um homem ser
só como acontecimento
Um evento
um furacão
Um tsunami
uma ausência no tempo

Talvez tivesse estes traços
talvez no azul houvesse o futuro
e no amarelo ouro
houvesse toda a sorte

Pudesse um homem
adentrando sala de um apartamento vago
Rachando as paredes com os pés
pudesse ele escrever
não mais choro
nem mais pranto

Nem mais sobre si mesmo
Pudesse
ele
este homem
Falar sobre o imenso
que não cabe nos olhos
Sobre o abismo
no qual se depositam
corpos assassinados

Este homem
não seria eu
Porque ainda
hoje sou eu
Ser meio vago

meio ausente do mundo
tentando ainda reverter
um quadro mofado

Quadro fadado
a ser desarranjo
A ser de outrem
que não

meu

Quiçá

de um mundo.

Obra de Emanuele Vittorioso

sobre encontro e encontrares


sexta-feira, 5 de junho de 2015

O que se pode apreender

A cabeça persiste em pensamento.

Cansado
O peito quer fazer frente
a esse constante apaixonamento
pelo tormento.

O que fazer?

A música desorienta.
O cigarro tem gosto ruim.
Nem vinho quiçá cerveja.

O corpo não quer mais ser judiado.

O que fazer?

Olho o sol.
Mesmo.
Eu o olho
E a olha-lo
Permaneço.

Se fico um tempo
Assim no sol retido
Eu descubro a justeza
Do tempo

De amanhecer
Dormir
E continuar
Sempre a cada dia
Reexistindo.

O que dizer?

Sinto
Como quem esgotou
Os verbos e seus substantivos
Sinto como quem pela pele
Encontra abrigo.

Sem piedade
Por dentro ou por fora
Uma surpresa delicada
Desafirma o fim

Os poemas já escritos
Viraram cinzas
As declarações se foram
Nos ventos desta tarde.

Nem me peço desculpa
Porque estou no caminho
Empenhado.

Queima
É claro
Ainda é desejo
Mas talvez
Antes de hoje

Eu não soubesse
O que pode ser a fé.

Existir não basta para importar

Antes não
Antes não me deixava
Achava cruel
Não queria me permitir
Se me viesse
Em sonho em cheiro
Logo após acordar
Eu me mutilava
E fazia força contra o fato
Insuspeito
De que em mim
Por mim
Você se lembrava.

Doía tanto.

Não ter controle sobre
Não controlar a lembrança
Não guiar o desejo
Ser apenas corpo morrendo
E te trazendo de passo em passo
Te buscando
Mesmo não mais te querendo.

Antes
Eu contava até 4
5
8
10 segundos
Sem pensar em ti.

Mas hoje percebo
Já faz algum tempo
Que você simplesmente existe
E pensar em ti
Não te dá força alguma
Em mim.

Existir não basta para me importar.

Sua presença fantasma
Persiste sem que eu possa a anular
E tudo bem
Nunca achei que a vida fosse
Plano capaz de ser desenhado
Nunca acreditei que pudesse o mundo
Ser apenas o desejado.

Tolerar as faltas
A presença dos ruídos
a vinda abrupta das ruínas
Eu aprendi
Aprendo
Eu estou sabendo lidar.

E agora
Você me amanhece faz já 3 dias
E eu penso:

O que querer tu neste agora?
Por que não cessa de me trazer
sua face oval e sua disritmia?

Não sei o que te dizer.

Talvez seja o inconsciente
Querendo nos fazer se encontrar
Mas não.

Sobrevivo como quem sabe
Que passado um tempo
Outro também há de passar.

Não tenho pressa
Não temo o desassossego
Estou pleno
Do jeito meio ao meio
Em que você me fez ficar.

Não te odeio
Não te menosprezo
Mas é certo
Que criei uma pendência
Que pela vida inteira
Talvez vá me habitar

Não você.

Não confio.

Não me permito
Confiar.

The end

The sun is here
There's wind
and I'm going
Throught ahead.

At least
I am still burning
I am full of
Fears.

I am not alone.

She would say.

There are so many things
I can't really understand
So many things
I do want to dance with

That even without sun
Even if the wind stops
Even if

I would keep on dancing.

Listen,

Now is the time
These are the days
Nothing goes wrong
anymore

These are the things
That I want tô remember
Cause love is the end

End.


no acaso de um verso

eis um corpo muito vasto
o de uma cidade como a nossa

as ruas não cessam de aparecer
os nomes não dão conta

penso com um leve desespero
que há muito espaço a nos preservar

um do outro

mas, a nos reunir
sobrevive o tempo

ao mesmo tempo, num acaso qualquer
haveremos de nos estranhar para nos reconhecer

e será provável numa mesma rua
esquina ou bar

escrevo como falo
escrevo como desejo

para depois desdesejar
e seguir tomando chás

neste silêncio profundo e
lindamente fora do tempo

e livre de todo espaço
exceto este mesmo:

oh

da poesia.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Aquilo que se aprende sem esforço algum

Foi preciso digerir tempo
Angústias e desorientações
Foi preciso desconfiar no sono
E desacreditar na salvação

Foi necessário bordar no escuro
Amanhecer nu no inverno
Compreender a ausência de abrigo
E virar de si próprio amigo

Foi
E no passado
Hoje
Já está ido.

Pois se agora
Há verde sobre o cimento
Se há paz no seu sorriso
E vasto profundo aprendizado

É só porque se aprende
Quando não se intenciona
Tanto
O fato.

É noite

E hoje

Só mesmo amanhã.

Você sabe disso

Por isso dorme

Tenaz

E tranquilo.

Sempre morando noutra imagem

Ele poderia estar frente ao espelho

Mesmo assim veria além do reflexo

Ele poderia ver apenas a si mesmo

Mesmo assim seria como fosse outro

Se certo vício
ou apenas imaturidade
Não se sabe dizer

Fato é que a realidade a ele

Nunca é tal como se revela.

Ele está de frente para o espelho agora

Um cansaço, talvez o cansaço, o desorienta

Mas ele persiste se mirando

É que já tem idade para compreender

Aquilo que se tornou de si

Daquilo que gostaria de ter se tornado

Um silêncio

Esta noite

Ele se pergunta:
por que você não lida com aquilo que tem?

Por que você anda tão insatisfeito
e descrente deste instante?

O tempo passa
O tempo passou
Ele não quer
Ou sequer sabe
Ele não se responde

E fecha os olhos ao espelho

E acredita
veementemente
Que amanhã
Pode começar tudo de novo

Tudo

Novamente.