Pesquisa
quinta-feira, 31 de outubro de 2019
e assim foi
I wanna show you how
quinta-feira, 24 de outubro de 2019
um fim é também um propósito
passar um pano umedecido
em atropelo
sobre as cinzas
perceber, com alguma surpresa,
que o gás do isqueiro laranja acabou
e também acabou o do isqueiro rosa
roxo?
nem me lembro
a caixa de fósforos acabou ontem
um vazio?
uma falta?
não
nada disso
tudo o que fica é a escolha
tudo o que fica é desabituação
para sair do lugar
para sair como quem baila
para bailar como quem se estranha
se estreia
outra vez
e renovadamente
falta?
necessidade?
e o silêncio que brota do sumiço?
e a densidade do ar que se aproxima de seu gesto agora sem sentido?
ficaríamos com o que há
apenas
e se não é falta
somente o que há
é a sua presença
em luta
no embate destemido
com as possibilidades
do estar vivo
terça-feira, 22 de outubro de 2019
247.
Por poucos dias, esses papéis ficaram afixados no espelho do guarda-roupas. Acredito que se ficaram por ali pouco tempo, ao menos em mim, aqui, ainda agora, se fazem presentes. "Acabou". Dizia um deles. O outro, imperativo: "Recomeça. Diferente."
Sabemos do que se trata. As coisas não param de acabar. Não param de morrer. Portanto, não param também de começar. E começam diferentes, ainda que tão parecidas. Quem dirá o que mudou? Você? Eu? Sem dúvida. Eu sou quem restou. O resto que ficou. Eu fico. Eu resto. Acabado e diferente.
Esse processo - esse processamento - que é estar vivo. Quantos cigarros ontem? Apenas 8. Foi preciso dormir cedo para não fumar mais. Acordei cedo, no entanto, e já se foram mais 2. Restam 6 para o decorrer deste dia. Como dizia aquela linha numa dramaturgia escrita por mim: "Que hora é essa que não passa?"
Sigo me perguntando, me pesquisando, me provocando. Provocando-me a mudar, a cambiar, a perceber o que me é destino e o que ainda posso escolher. Não mais controle. Aceito o vento. O vento, apenas, sem mistificação. Aceito a mudança de rumos. Aceito. Aceito. Estou aceitando. Estou tão cansado que essas fotografias analógicas me devolvem um pouco do trabalho que é se fazer ser e ser enquanto ser presente.
A dor, minha guia, pouco a pouco fica tão íntima que já nem faz mais tanto estrago assim. As dúvidas, as suposições, as hipóteses, tudo isso, tudo mesmo, isso tudo perde a pompa insondável e vira migalha de pão. Eu faço a faxina.
sábado, 12 de outubro de 2019
La solitude nesse pio
Riria, talvez porque se não o fizesse
Morreria mesmo.
Por isso, riria. Em meio a tanta tosse
Tantos golpes
Seriam mais azar, mais sorte?
Riria, por fim
Incapaz de se aguentar apenas quando
Junto consigo mesmo.
Remonta tudo.
O que antes no antes havia ficado
Hoje se confirma, hoje mudou
Lá ficou e, no entanto, e você?
Você também não mudou?
Ainda na mesmo?
Seria possível?
O incômodo é por, após tanto tempo, reconhecer-se perdido, de si, de si perdido
Afastado
Devendo a si próprio
Que merda
Que imensa merda
Nisso, pensou, em sabedoria apressada
Pensou em ficar sozinho, em sumir, pensou e foi
Elaborou rápido e nisso se foi
Longe
Distante
Outro país
Sumiu, fugiu, partiu a comodidade social do estar entre conhecidos e, quando distante, implacável, viu-se sozinho
Sozinho
Sozinho
E tossindo
Tossindo
Tossindo.
sexta-feira, 4 de outubro de 2019
Diz controle.
Diz
Vai
Diga
Diz essa palavrazia
Palavra vazia
Purazia
Azia
Diz
Sobre o controle
Sobre suas vãs tentativas
De controlar
De dizer e firmar
Diz
Diz aí o que foi conquistado
Melhor seria ter perdido
Melhor ter sido sequestrado
TER perdido
Ser indigno
Dessa mentação
Dessa mastigação
DE si mesmo
Diz
Diga, vai
Diz sobre o controle tentado
E passageiro
Vai
Reconhece
Reconheça
O que aconteceu com aquelas certezas?
Arrogante
Arrogância
Ânsia por arroz?
Perdeste, palhaço
Sem amor
Sem tangerina
Sem Geleia
Sem roupas limpas
terça-feira, 1 de outubro de 2019
O que resta guardado
De ser exposto, denunciado, entregue aos ventos.
Aquilo que em ti foi trancafiado
Gostaria, jovem senhor, de ser entregue
Como quem delata um crime
e junto a ele o seu perpetrador.
Uma pequena bolsa
uma uva aguda e densa
uma dor quente e presa
Em você sobrevive isto
isto sem força
para alar-se.
É pedido aos jovens da sua idade
que não temam expurgar esse horror
Que compreendam, jovens, compreendam
que horror mesmo é guardar em si
tanto e tamanho desconforto
tamanho e tanta dor.
O que resta guardado
germina
Do silêncio se nutre
e quando perceberes, jovens
a tua idade avançou
e a sua cabeça
não sobreviveu
ao peso
que foi ter sido
por tanto tempo
esconderijo
para seus medinhos.