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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Poeta

Pretenso
Escrevo como se pudesse me entender
Ao outro, escrevo
Como se soubesse dizer arrepios.

O mundo me dói tanto
que em versos curvos
Penso poder domar
sua ira.

Não.
Hoje amanheceu tudo de novo
Habitual.

Tento escrever para te trazer meu incômodo
Mas não sei te ouvir quando você tenta o mesmo
me fazer.

Meio

sábado, 18 de janeiro de 2014

difícil rima

 

meu coração,

hoje como ontem

estou-lhe

morto de paixão.

Aquilo que não cessa

é o olhar
preso em cada dente
aberto.

Abismo
na beira do qual
te espero.

Amor não sabia o que fosse

os tempos

e as linhas
Dos verbos, suas cores

Tudo partiu e virou composição
IconoClasta.

Quando eu te avistei
descendo o carro
na estrada
Eu descendo
Eu no carro
Tu no mar
mar de asfalto
Eu soube o que não venho

inda agora

A ESQUECER

isso de amar

isso de morrer

não.

é forte.

Demais.

Piscar de olhos

---

Te vejo e suspiro
Abro os olhos e te perco
No dentro, eu já sei
Isso entre nós dois
É fato consumado.

---

Amor, posso sentir seu abraço
Pela frente e pelo verso
Eu sinto
O seu cansaço
Sobre o meu
Forjando laços,

---

Não eram estas as palavras a ti destinadas
mas é que hoje deu tudo errado
E eu continuo aqui
perdido entre a bagunça da casa
Quando você chegar
aí sim, haverá motivo
Para pentear o cabelo
passar perfume
E rachar o peito - ao vivo -
dizendo-lhe: vem, faz em mim
Aqui: seu abrigo.

---

eu sou uma daquelas pessoas
sim, eu sou uma dessas
daquelas que por vezes são únicas
não porque são únicas
mas porque têm pressa

e se destacam
em solidão retinta

na frente do movimento
da passeata

na frente da fila
sou daquelas que irrompem
mal o dia se faz em dia

vês?
onde foste amarrar teu burro?

---

e quando a saudade de ti me assalta
(como ontem ao deitar só
em nossa cama, esvaziada)

eu então apenas falo baixo
como se contasse segredo
ao silêncio:

que saudade de ti, meu amor

que saudadeee

e prolongo as letras
e espreguiço o corpo nu
desabitado

a saudade então me abraça
e pede, consciente:
descanse, menino

o teu amor, daqui a poucos dias
estará ao seu lado
e lhe dará

além de beijos
carinhos e abraços

barulho o suficiente para me esquecer.

---

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Não saber.

Apenas o cansaço
constante, presente em cada
passo
Persiste o homem
ainda jovem, mas já
homem
diriam, os lúcidos, de sorte
Homem de sorte

Não soube, o dia da morte
nem se o cigarro poderia
Consumir o desejo
Não soube a cor do enterro
nem sequer soube
diziam - o homem de sorte -
o trajeto do caixão
(ele queria fogo
queria ser logo
cinza…

sobre o mar que sempre
temeu).

O homem cansado
e de sorte

Ainda não morreu.

Ainda não.

MEDIDA PROVISÓRIA - Sete dramas sobre a falta de espaço

 

10

Espetáculo feito por e com amor.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Fado

Nunca antes estive tão
cansado.
Nunca antes os olhos
pesando
Os passos todos os
passos embotados.

Nunca antes só
que agora
Guardo ansioso
o beijo-casa
Anunciado.

Venha, meu amor
Eu estou me cansando
para poder deitar
E por longo tempo
restar ao seu braço.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Resgate

Venha comigo.

Pediu a mão da moça à mão do menino.

Venha!

E então se encostaram
e foram juntas, as mãos,
e os corpos
também juntos
Até o alto da pedra
onde as ondas faleciam.

O vento mexia nos cabelos dela
e refrescava o suor da timidez do menino.

Soltaram as mãos
e olhando ao longe, no centro do mar
Voltaram a se dar as mãos
porque realmente o separar delas
havia sido muito brusco.

Ela fechou os olhos.

Ele respirou fundo sem muito barulho.

As mãos continuaram dadas
e dentro
entre os dedos dos dois
Fiapos de outro tempo
agora
Atualizavam-se:

eu preciso dizer
que o mundo dera voltas
e voltas
até que o reencontro
fosse o mote
desses dois.

20130804_170747

Casa

O vento do ventilador
fez soltar o papel
colado com fita
na parede maior da sala

Houve um instante de silêncio
como se todas as coisas
da casa
soubessem: ele agora nos descobrirá.

E ele foi, lento
- por conta do calor do dia -
mas persistente,
esvaziou tudo
tudo
Tirou fora até aquilo que antes
o fazia sorrir

Ficou nu
sem desespero
ou orgulho próprio.

Olhou a janela
e descobriu
que o sol do dia
já havia saído faz tempo,

Desceu

nu

As escadas

e foi

Fazer compras
para um jantar a luz
de velas.

Escova de dente

Amor,
me desculpe
Mas usei sua escova
Sem querer

No fundo
no fundo
Talvez quisesse
Mas bêbado
Não pude compreender

O seu
O meu
Não sei mais
Tudo parece
Nos acolher

Usei sua escova
E juro
Nem estava querendo te ter

Foi gesto vago
Ato fálico
Que sem pensar em ti
Me fez te ter

Amanhã
Eu juro
Voltarei a escovar
meus dentes
Sem você.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Ser grande

Para minha família

Me sinto grande
capaz de amar
e sofrer.

Grande não infinito
ainda assim grande
com habilidade
fluida
para entender.

O reverso
que se esconde
Na indiferença
de um silêncio.

Nunca se é grande
o bastante para
a vida reter.

Hoje quente
noite em bafos sonoros
Nesta cidade
me vejo num espelho
descendo elevadores
E compreendo

Ser grande
não é ser velho
Mas tão somente
sentir como se sabe
o que pode ser
Voltar a tornar-se

menino
imberbe
e tenaz.

---

São Paulo, 2 de Janeiro de 2014
Terminal Rodoviário Tietê