
Pudesse um homem
desenhar aquilo que sente sem saber
Tudo aquilo que escuta
sem nem bem ouvir
Pudesse escrever
sem palavras
sem caneta
nem papel
Pudesse um homem ser
só como acontecimento
Um evento
um furacão
Um tsunami
uma ausência no tempo
Talvez tivesse estes traços
talvez no azul houvesse o futuro
e no amarelo ouro
houvesse toda a sorte
Pudesse um homem
adentrando sala de um apartamento vago
Rachando as paredes com os pés
pudesse ele escrever
não mais choro
nem mais pranto
Nem mais sobre si mesmo
Pudesse
ele
este homem
Falar sobre o imenso
que não cabe nos olhos
Sobre o abismo
no qual se depositam
corpos assassinados
Este homem
não seria eu
Porque ainda
hoje sou eu
Ser meio vago
meio ausente do mundo
tentando ainda reverter
um quadro mofado
Quadro fadado
a ser desarranjo
A ser de outrem
que não
meu
Quiçá
de um mundo.
Obra de Emanuele Vittorioso
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