nietzsche nasceu no mesmo dia que eu.
mas morreu oitenta e sete anos antes de eu nascer.
morreu nietzsche em mil e novecentos.
eu nasci dois anos antes do muro de berlim falecer.
por que me seduzo tanto a isto?
por quê?
haveria explicação que não o amor por você, oh, poesia?
que possibilidade é essa que você me oferece?
que coisa!
que coisa linda!
que bem linda coisa mais linda!
estou cheio de cicatrizes.
mas o mundo também está.
não é sobre mim.
não deveria ser.
eu reflito parte do mundo.
eu sou apenas um punhado de matéria.
eu não tenho mais jeito.
marco em fotos, para não esquecer.
e mesmo que esquecesse, o verbo continua.
haveria conjugação possível para tamanha tontura?
algumas perguntas persistem.
e eu persisto junto.
eu, sempre eu, sempre tão fora de mim.
apesar das redundâncias.
rede aberta.
deep web.
eu conheço aquela coisa.
e então ele me disse:
não quer ficar?
eu disse:
não mesmo.
ele me olhou.
eu já estava a olhá-lo.
e me perdi
(não nele)
mas na conjugação dos verbos.
eu nunca sei em que tempo verbal devo estar.
deverias mesmo? ir?
ele me perguntou.
eu sorri.
ele sorriu.
nós sorrimos.
e depois só silêncio.
um abraço
um repentino abrigo
a poesia foi tramando
as partes
dos nossos corpos
e fazendo rima
meu abraço no dele
meu peito no dele
o dele no meu
mão nua na nuca
ele me ofereceu
um arrepio
era ele mesmo?
deveria sê-lo?
nunca me perguntei tais coisas
ainda estou perdido
tentando trocar a tinta da impressora
um silêncio
outro
sexo?
sim.
não?
eu disse sim.
ele sorriu
e eu fiquei mudo.
por que sempre ele?
e então ela surgiu
abrupta
não querem trocar o cd?
eu disse que não era cd.
ela disse:
a música
não querem trocar?
não queríamos
e ela se contentou
ficamos ouvindo a mesma coisa
a tarde inteira
e então foi isso
nada mais se passou
os beijos cessaram
e entendemos que aquela tarde
era aquilo ali
uma ficção qualquer
mas sem morte
sem drama
sem fim
sem nada
exceto: CONTINUAR
juntos
E reunidos.
foi lindo.
é lindo.
está sendo.
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