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domingo, 21 de março de 2010

as solidões,

quero encher

mas esvazio

toda vez que você me vem

não pela pele

mas pelo caminho

nebuloso da pensação.

nisso em mim te dissipo

testando possibilidades

fazendo mentira virar

verdade, virar outra

coisa melhorada

a isso de ter você

sem te deter.

quero preencher

mas agonizo

não consigo

é difícil mas assim

sim vai ser

toda vez que tentar

em mim te manter

e fazer ficar

e fazer durar

aquilo que só é bom

porque dura pouco.

aquele abraço

o tal carinho

o espaço que juntos dividimos

os corpos entregues

às solidões,

sem universo ao redor

sem céu nem estrelas

sem refeição

sem roupa

sem cuidado

entregues as mãos

restamos inertes

à parte

sem saber jogar

e não por temer

e não por não querer

mas porque nos cala a boca

a possibilidade esta

hoje tão concreta

de se poder se amar.

MAS,

e se não houvesse essa condição?

e se o bonde passasse e te levasse de mim?

e se o raio fizesse meu corpo viva chama?

se meu prédio caísse?

se a gente não se reconhecesse nem de perto

nem sequer a distância?

ia ser melhor assim?

não, né?

é o que me digo:

Então, Pare!

dê-se o tempo.

para a sede se refazer.

dar o tempo

da fome

o tempo

do beijo ressequido clamar novamente

pela presença.

chega de dizer

se ao menos eu pudesse…

porque eu posso, ué…

por que então esta agonia?

coisa boba

besta

tola.

portanto,

dá-lhe-me, oh tempo

espancamento via segundos

lançe sobre mim um prédio-minuto

faça sobre meu corpo desabar

uma hora suicída e aceleradamente

precisa.

quem sabe assim

GASTANDO-ME INTEIRO

hei de olhar para esta vaga

- nu peito -

e sentir saciedade

onde agora

resta apenas

esta vaga noção

de fidelidade.

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