Caminho pelas ruas de outro país, em silêncio.
Cruzo por senhoras que leem os jornais do dia.
Na cafeteria, televisor ligado, o atendente resmunga um meu deus
enquanto contabilizam os mortos.
Caminho pelas ruas pensando no dinheiro do aluguel.
Sou convidado para um almoço, mas invento uma desculpa qualquer,
preciso continuar caminhando.
Entro numa loja, faço impressão de estudos sobre o romance no século XX,
o século das grandes guerras.
Agora estou parado
ali, naquela rua de ontem, estou ali parado, longe dos mortos
eu estou em guerra
mas com outras armas
e sem armas eu estou em guerra
mas a guerra não é um lugar
a guerra é mesmo um afeto
sem palavras sem sentido
a luta diária me estrangula
os íntimos estou em guerra
e o sangue ainda que nas veias
ainda que adoecido
me sobrevive neste mesmo mundo
onde eu só me faço desgastar
e roer e moer e despedaçar
Quantos já morreram então?
Quantos já haviam morrido?
Quantos haverão de morrer?
Por que tanta morte, meu deus, por que tanto morrer?
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