A coisa mais linda de todas
é o seguir, alheio ao sentido
É permanece imundo e mudo
ainda que deseje falar e gritar
todo o íntimo
A mais linda coisa
- de todas -
Sem dúvida há de ser
esta:
sentir fome e mirar a pêra
sentir sede e permanecer
sedento,
Deve haver alguma beleza
em tossir gripe ao relento
Em dar beijo sem nem bem dá-lo
Deve haver algo, alguma coisa
indefinida
Que comporte o instável de estar vivo.
Amanhece o dia
e a nuvem negra
precipita o que ainda não veio
Atropela-se o cachorro
e ele ali fica
Prensado por repetidas rodas
de distintos carros
sobre o calor de distintos minutos do dia
no mesmo negrito asfalto.
Sem sentido, nem direção
o adiante é só sugestão:
confia-se nele
como se confia
no sim
no talvez, no não
Importa?
O coração range
e a aorta arrota:
estamos vivos, comparsas.
Estamos, ainda assim
ainda agora, ainda aqui
na Roda.
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