O mais assustador
foi quando se viu parado
no centro de uma vasta avenida
e percebeu
que o susto de ali estar
era apenas por nunca
ali ter estado.
Voltou à calçada
e sentiu-se em casa
mas seguiu caminhando
e mirando - seduzido -
o centro do longo
e retinto asfalto.
Parou, de súbito
sempre, de súbito
Parou e mirou a avenida:
era noite
era ele apenas
era agora
e voltou
ao centro da avenida.
Fechou os olhos para a madrugada.
Quis morrer, caso viesse um ônibus
uma moto um táxi
Quis morrer, tranquilo
porque o susto não era bem a morte
mas sim o fato
de nunca
ter-se permitido partir
sem nada antes dizer
e abriu os olhos
Silêncio total
ninguém passou
nem sequer um pombo
E, novamente, tomado de susto
constatou:
apenas me assusto porque nada disso eu antes havia sentido.
E voltou caminhando para casa
certo de que o seu hábito de mundo
era o único responsável
pela sua incapacidade em lidar
com o desconhecido.
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