Ao cruzar a próxima avenida
foi dito nos jornais locais
- e nos boatos do bairro -
que ali se faz comércio
de carne humana
e cocaína.
Cuidado!
É preciso ter cuidado,
o moço que servia copos
e garrafas
o moço jovem de sobrancelhas ralas
ele também
foi dito nos jornais
- e nos boatos do bairro -
ele matou a esposa
mas deixou viver
o par de filhos
recém-nascidos.
Cuidado!
É preciso ter cuidado,
A vida simples
e amigável
O sabor limpo
e inerte à descrição
Tudo isso viajou para Minas
e não mais voltou
porque o trem acabou
a sesta entrou em greve
o café esfriou
e a plantação morreu de sede.
O mundo não é mais como era naquela poesia.
Por isso,
Cuidado!
Cuidado
para não esquecer
que a vida possa ser
- caso se deseje -
tudo aquilo que por ela
já passou
e resta hoje convertido
em cinzas.
Cuidado!
Cuidado, é pedido em rede nacional:
Sigam acreditando que a vida é só isso mesmo:
Órfã de poesia
impossível de ser reescrita
Vida inerte
Olho cego
Mão passiva
Cuidado!
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