Eu confesso
talvez seja o cansaço
Mas bem que eu queria
conseguir ver a beleza
a me seguir os passos.
Deve haver algo de lindo, não?
no meio dessa obra toda.
O eixo da construção caiu
as fundações estão expostas
sai formiga grande e gorda
por todos os lados e buracos
Mas deve haver algo
um algo sequer
Que seja belo, não?
Todo fim encerra um começo
porque a vida não cessa
mesmo quando o corpo morre
Porque segue o corpo morto
dentro do mundo
se viajando e se revivendo.
Algo bonito, alguma coisa
tem que existir.
Eu me olho no espelho agora.
Eu ouço as músicas mais delicadas
que escolhi nesta noite apenas para mim:
deve ter sim um sorriso ainda sem força
mas querendo nascer;
deve haver uma memória mais secreta
que quando surgir, tamanho o imprevisto,
ao invés de trazer dor
dará uma trégua ao desespero;
deve haver um abraço futuro
que não me mortifique de medo;
deve haver um acaso terrível
a coser de novo a bainha
que nos soltou.
Deve ainda haver amor.
Mas, por agora,
o que há é lágrima para fora
e para dentro
É noite hoje fria
e o relento de uma casa para um homem só.
Deve haver alguma coisa na vida
esperando-me para desfazer esse nó.
As coisas bonitas, como sempre foram,
meus olhos hoje mais que nunca
começam a perceber.
Não é bem ao tempo a quem eu agradeço
nem muito bem agradeço a um você
Hoje
aqui
Nesta noite
passando
Eu agradeço à possibilidade
de ver através
do pranto.
É isso.
É isso mesmo.
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