Por favor, não estamos falando de lágrimas quiçá de piedade. Não estamos aqui falando de gostar de doer, nem sequer de insistir em rimas como início e fim, vida e morte, alegria e tristeza, não disso. Estamos falando do fascínio, apenas dele.
Quando se está só, mesmo que com olhos fechados, o fascínio se deita na bacia da vista e ali se procria. O silêncio fica audível e a pele sente a própria sua textura. O fascínio escancara a solidão e o que se vê adiante é a única imagem possível para lidar com o desamparo.
Frente ao desmonte do mundo; face à constância das guerras e da máquina de produzir dinheiro inventado; ante ao luto de tantas asfixias: o fascínio em solidão contigo permite que se ampare a existência num tenaz gesto de perseverança:
você descobre que o corpo é o poder último incapaz de ser sequestrado; o corpo mutilado e escravizado, ainda assim, em sua condição de vítima, ainda assim é retinta energia.
O fascínio preso em meu olhar quer me anunciar o seguinte: o modo como você mira todas as coisas te convida a uma certeza dura e dolorosa de que a vida não vale à pena.
A vida não vale nada.
E seus anos de estudo e ciência te confrontam com pouca opção: você morre? Não,
muito rapidamente você diz que não e se põe a dormir. É que há vida mesmo em sua falta, há morte em vida pois o ser humano é a revolução mais industrial de todas já arranjadas.
E o pavor num coração é como dinamite em bombas.
FONTE: Maurice Blanchot
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