Eu aqui me sentarei
diante destas teclas
mais uma
mais outra vez
Diante delas vou me olhar
e vou me sentir
diria eu agora
neste contexto em que me encontro
que vou me auscultar
É o sentido que essas teclam em mim imprimem
É o sentido pelo qual eu me deixo guiar
E é bom
é preciso
Desço a primeira mão
A outra prestes a romper a inação
que estranha articulação do corpo
que se comunica mais pelo sim
do que pelo não
A primeira mão descida
A outra dançando um tango destemida
que estranha articulação meu corpo comunica
ao tentar me dizer
Mas pelo sim
pelo toque
seremos nós capazes de ser
ser o que vier
ser o que já foi
O corpo se articula agora mas para o antes
nunca para o depois
Nunca para o fim.
O corpo hoje se articula para se preservar
retido na vã tentação de durar o segundo
que morre tão breve quanto se faça noite em dia
Esperamos com as mãos no ar
Esperamos a intuição voltar
nisso
resvalam os dedos e nisso faço o preciso
Não pode haver em mim outra sinceridade que não a da confusão
Dar forma ao eterno luto
dar forma à descontração
é dar forma ao inevitável
dar forma a minha esta condição
de ser humano
de ser amando
de ser, agora, só mesmo eu sobre este piano
réquiem
ligeira canção do desapego
ligeira sonata do desespero
pero, música também aos olvidos
música aos olhos secos
ao coração ressequido
música a música
para desentupir artérias
desembaraçar as linhas
e marcar bem o ritmo
do corpo
da obra
da busca
o destino
música para escrever ao vento
o caminho da perdição querida.
Toca um piano para mim?
Eu te peço, mais uma vez
em toda e qualquer esquina dessa ida.
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