Preciso falar da linguagem.
Mas para não ficar massante
eu uso você, meu amor,
como matéria-prima.
Você que pode ser qualquer um
- e que não é -
Você que provoca em mim
toda e qualquer dor
- inclusive as inventadas -
eu ouso você. Sim.
Para falar da força dos verbos
ponho cada um deles em sua mão
deixo que rodeiem seus traços
e que partindo deles se guiem
rumo a minha muralha
ou seu murro
a sua decepção.
Eu uso você. Sim.
Que mais poderia fazer?
Não se usa a língua para falar da linguagem.
Eu me equivoco.
Pois a língua se usa para aquilo que já não mais concerne a este tempo.
Momento em que resvalo eu - preciso -
por entre adjetos abjetivos
metánoras e metofímias
inconsistentes pois não me trazem você
E pior que isto, tão concreto
aumentam inda mais a rima
nossa louvável indefinição do amor.
Eu queria calar.
Mas tenho medo do que o silêncio é capaz de deter.
Medo dos silêncios que seria capaz de escrever,
usando você como página em branco
para o meu desastre,
Medo dos exemplos que a você eu viria a rimar,
confundindo a rima com um gesto
confundido beijos com o conjugar.
Perdoe-me, eu falho, cansei de falar.
Falho como não houvesse amanhã.
Falo como absurdo primário,
incapaz de se explicar
incapaz de se abster.
Não foi isso que fez você em mim?
A gênese da absurdidade querida?
Essa coisa que só se diz em mim pela sua coisa aqui em coisas já idas?
Eu persisto na perdição. Se já estamos perdidos, ora
então que encontremos nisso
a multiplicação.
Eu persito nesta poça.
Vejo nela um reflexo escorrido
Vejo nela escuridão diurna
Nela os seus olhos
dissipados por gota
em mim gerada
Os seus olhos piscando em ondas
se afogando em movimento
para em outro início
terem suas cores alteradas.
É busca sem fim, coração:
Choro enquanto tento enxugar a poça.
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