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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

vista cansada

peço desculpas. não estou vendo muito bem as coisas. não vejo as pessoas, não vejo seus sexos, não compreendo - talvez por não ver - não compreendo a necessidade a força dos protestos. peço desculpas, tenho vergonha, não consegui. alguma coisa em mim está dando muito errado, temo que não seja capaz de continuar. eu não vejo. eu não te vejo. não é cegueira, talvez até mesmo seja a tal incapacidade de cegar. eu vejo tudo, tanta forma, tanto beijo, cada perna, cada meio, que eu não sei mais o que vejo. o quem vejo. e se te vejo, passo cruzando na velocidade das pernas, e morro dentro de mim aquele desejo só destinado a ti.

peço desculpas, hoje eu passei por ti, mas não voltei. não olhei para trás, não parei. eu sei que você parou, que ajeitou os cabelos, que piscou os olhos pedindo paciência, eu sei que você parou, eu senti, mas acontece que eu continuei. eu não sei porque. eu não saberia dizer. mas eu passei, como quem passa perdendo algo no caminho. era você que ia, o seu olhar que ia, ficando parado, sozinho, à espera do meu (corpo).

cheguei em casa, tão triste. lavei as cuecas, as meias, enchi de sapão em pó o tanque e demorrei horas para tirar a espuma. demorei horas sob o chuveiro enquanto o aparelho de som repetia um cd arranhando-se a cada curva. eu fiquei, parado naquele lugar pós te passar, parado no chuveiro, sem conseguir sinalizar: desliguem o som que se repete e repete sem parar desliguem meu peito façam-o parar.

tão criança. fui para o quarto sem camisa tomando no corpo o vento quente dessa noite. que falta de coragem, que falta de amor (próprio). sim, não consegui. quem sabe outro dia então para te ver e ser capaz, de mesmo cego, talvez, mesmo assim te morder. para saciar esta fome. para sublinhar este nome, este sim, do tal desejo.

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