passado alguns tremores, alguns sentidos
o que vi pela janela era o céu se convertendo em concretude
em possibilidade
em chão
em não mais destino
em não mais apenas divagação
*
vi o quanto fomos ou somos incríveis
vi o alumínio da asa batendo em meio ao vento
me senti seguro na insegurança
de um detalhe
de uma ousadia expressa em docilidade
era o plástico, o cinto de segurança
era a asa, uma engrenagem
a dança da máquina
voando livre
passível de destruição
passível de passos largos
de merecida contemplação
*
é concreto. somos menores do que somos.
lá no céu furando o universo
eu vi como há espaço
para aquilo tudo que não podemos compreender
por isso resta tanta incompreensão
pois tudo que ainda é dúvida
plana pleno no ar
deita seguro no colchão nuvelado
num quadro ansioso
para ser desvirginado
*
morrer às vezes
é um encontro da sorte.
*
estavam todos ali
comendo nuvem de algodão.
Um comentário:
há muito tempo não leio algo tão óbvio e brilhante do que esse verso:
"é concreto. somos menores do que somos."
bjs*
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