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quarta-feira, 30 de setembro de 2009
outside
é porque deixei de me ser interessante
é como se tivesse visto lá fora
algo melhor
mais concreto
algo, enfim, menos como eu
discrepante
quando fora de mim
estou mais profundo, sabe?
me sinto mais sincero
mais leve
com os ombros decolados
capazes de voarem sem freio
voarem sem peso
mesmo com o peso próprio de ser corpo
hoje
inteiro
quando fora estou de mim
vou até a sacada
vejo a noite gritando
com carícias vindas no vento
quando fora
sinto o toque ser tormento
e ter amizades nunca foi tão
tudo
fora de mim
para voltar ao interior de novo
para se aguentar mais um pouco
fora de mim para não tão cedo
enlouquecer
no limbo
no trapézio
no piso verde
tecido sintético
no limbo
no limbo
do limbo
não quero sair
terça-feira, 29 de setembro de 2009
por que demoras a se dopar ?
senta aqui comigo e vamos tentar entender. não com palavras, talvez com gestos, não com certezas, talvez antes com protestos, desesperos d'alma. que olhar é esse que de ti se apoderou. como fazer para não tombar sobre o corpo esse café quente que esfriou? vamos pousar a mão - o gesto - sobre o gesto. deixar o semblante caído e nos entreter, na nossa desgraça. isso é bom, né?
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
descanse
o corpo essa decepção esse pedaço tão concreto
da estranheza.
deixe restar
assim calmo assim pleno assim tão puro
pecado expresso no tempo.
deixe levar
que vá embora
que tu não mais o alcançe
que lhe seja impossível esticar
as mãos estender
o corpo mover
deixe tudo como está fixo
apaixonado pelo silêncio
de apenas ser
e sobrar.
você aqui todo embrulhado
eu dentro remexido avoado
deixemos assim nessa configuração
que o meu grito eu tombo para dentro
que do seu eu faço nova canção
e faça ouvir
sempre gemido onde houvera putrefação
sempre gemido onde ouvira reclamação
disparate
plena e sua inconformidade
que já não me tocas mais
porque estamos frios ao destino
estamos solícitos
à descoberta desse novo mundo que surge toda vez que
- juntos -
fechamos os olhos de pavor.
quando juntos
cessamos a vista e somos só
sabor
estranho
castanho
desumano
mas tão clichê
ainda tão amor.
Pacto dos Pêlos
eu vou achar que é agradecimento
mas não é isso.
a palavra entre gente só funciona em silêncio
quieto
precisa, posto lacrada
palavra encanto
palavra ilustrada
pelos pêlos pelos pactos
travados entre o suor dos corpos colados
não diz nada, nem oi nem sequer tchau
vamos preservar essa incongruência que nos faz como tal
um duplo que não é presente
é urgência plena
acontece e some
de repente
um duplo que se trava no momento mais indigente
sempre quando a alma pede aos céus
por favor, faça algo acontecer
pureza
meu corpo nu
sem fronteiras
a sinceridade extremada
posto para fora docilmente
caluniada
fica quieto. deixe-nos restar.
precisamos tamanha a entrega
agora sobrar
no silêncio
outros tormentos amamentar
e amanhecermos, em seguida,
inspirados.
para o que ainda não fomos capazes de entender.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Salvasse alguma coisa
D - Eu não quero mais me fazer bem. Não está adiantando.
B - Como não? Você está aqui, vivo, conversando comigo...
D - E quem disso que isso é vida? Eu não aguento mais.
B - Não aguenta o quê? A sua doença?
D - Não... Mas ter que ser grato por estar vivo. Eu prefiro...
B - Não diga isso. Tanta gente que te ama...
D - Não vem com essa. Se amor salvasse alguma coisa, a fulana não estava lá embaixo, estatelada no hall de entrada desse prédio...
B silencia. Olha com precisão para A.
B - Perdão, mas quem é fulana?
A - Fulana é fulana, não sei nome, nem cor dos olhos. Até porque se fecharam.
B - No hall de entrada?
A - Sim. Ela deve ter pulado por algum motivo. Quando entrei tinha acabado de bater no chão. O sangue ainda espirrou, veio em minha direção.
A estica a perna e mostra um friso marcado a sangue.
B - É sangue?
A - Você sabe que é, doutora. Da fulana.
B - Isso foi agora?
A - Um pouco antes de eu chegar. Depois que aconteceu eu fiquei esperando no lugar, sem mexer, o porteiro saiu. Olhei para o céu, quer dizer, para a coluna de ar que dava no hall de entrada... E veio caindo o que parecia ser um raio-x, um exame, algo assim...
B - E o porteiro?
A - Ah, veio com um plástico e cobriu a moça.
B - A moça?
A - A fulana, a moça era a fulana.
B - Que horror.
A - Foi o que eu disse. Se o amor salvasse alguma coisa, talvez ela tivesse usado o elevador, ou mesmo as escadas... A senhora não acha, doutora?
B olha estatizada e de súbito abre uma gaveta.
A - Enquanto o porteiro cobria o corpo dela, o exame caiu sobre um pouco de sangue. E o envelope do exame, verde, caiu aos meus pés... Eu podia ter visto o nome dela, para não ficar chamando de fulana...
B estica um envelope verde para A.
A - O que é isso?
B - É o resultado do seu exame. Volte semana que vem, precisamos conversar.
A - Eu saí da sala. Entendi tudo pelo olhar que ela não me deu. Ela tinha medo de dizer que eu iria morrer. Como se por dizer isso fosse me impedir de viver, me impedir de amar. Eu desci o elevador e cheguei lá embaixo, o corpo já tinha sido tirado. Mas olhei com fixação para o chão. Deu tempo de encontrar junto à porta de saída, um resto de sangue, uma pincelada no chão. Peguei meu envelope e limpei o sangue, espesso, querendo se possível ser eterno. Limpei de novo, limpei com a mão. Avancei e joguei na lixeira o exame que não me servia mais. Estou aqui, diante de você. O que você tem para me dizer?
C junta as duas mãos e olha sobressaltado.
C - Eu vou te pedir alguns exames. Quando você os tiver, volte que a gente conversa e vê o que poderá ser feito...
DON’T TELL ME
NAQUELE DIA VOCÊ ME TROUXE ATÉ AQUI EM CASA. VOCÊ AINDA SE LEMBRA? Lembro. Essas coisas a gente nunca esquece. EU SEI QUE VOCÊ ADORA DIZER O CONTRÁRIO, MAS VOCÊ ME DEU AQUELE BEIJO QUERENDO QUE EU FICASSE APAIXONADA POR VOCÊ... Eu te beijei porque eu gostava de você... Só isso. AH, GOSTAVA... JÁ ENTENDI TUDO... Você quer o quê?! Que eu finja que nada mudou depois de tudo? SABE DE UMA COISA?! VOCÊ APARECEU NA MINHA VIDA JUSTAMENTE NO MOMENTO EM QUE EU PERCEBI QUE NÃO DEVIA MAIS PERDER O RESTO DO AMOR QUE EU TINHA PRA DAR... PORQUE O AMOR É FEITO DE TROCAS! VOCÊ NÃO SABE, MAS ELE É FEITO DE TROCAS! NO FUNDO, EU SEMPRE ACHEI MUITO DIFÍCIL ACREDITAR EM VOCÊ. E mesmo assim, estamos aqui até hoje... Por acaso eu não te contei que... VOCÊ FALA ATÉ HOJE COMO SE ISSO FOSSE UM FARDO PRA VOCÊ! EU JÁ TE DISSE ISSO! EU NÃO SOU COMO A ÚLTIMA QUE VOCÊ SE ENVOLVEU! EU TÔ TE DIZENDO! EU NÃO COLOCO A MINHA VIDA NAS MÃOS DE QUEM NÃO MERECE... Sempre a mesma defesa... Você não muda nunca. Aposto que ainda tá pensando que eu vou te dar o mundo. E VOCÊ? PENSA QUE EU SOU COMO VOCÊ, QUE DEPOIS DE CHEGAR ATÉ ONDE CHEGOU, SÓ CONSEGUE SENTAR E CHORAR O FRACASSO QUE É? Não tente me dizer o que eu devo fazer! ENTÃO NÃO TENTE ME DIZER O QUE EU DEVO FALAR! PORRA, VOCÊ NÃO ERA ASSIM! Diferentemente de você, eu mudei. MUDOU PRA PIOR! PRA QUE ISSO?! Qual é o problema em mudar? Não dá pra ficar com alguém que sempre acha que tá certo. É MELHOR VOCÊ SAIR DA MINHA CASA. Tá vendo? Isso desanima qualquer um... É só começar a dizer umas verdades que você tranca a porta. Foda-se, também. Não pense que é charme meu, mas antes de ir, eu tenho que... CHARME?! Eu só quero minhas calças de volta! Onde é que elas estão? VOCÊ TÁ PEDINDO PRA EU TE CHUTAR DE UMA VEZ POR TODAS? É ISSO?! Eu tô pedindo as minhas calças de volta, só isso! SAI DAQUI AGORA! Você não quer é me esquecer, é isso... Só pode ser isso! Foi bom pra você, não é? Pode falar... Geralmente é muito bom, é daí pra cima... EU VOU PEDIR PRA VOCÊ PARAR COM ISSO. Eu?! Eu ainda pensei que gostava de você pra caralho! Mas que merda que eu fui arranjar! ARRANJAR? AI, MEU PAI! EU SOU UMA PESSOA ABORRECIDA NESSE MOMENTO! Devolve minhas calças! TÁ... ENTÃO A GENTE FAZ UM ACORDO. VOCÊ SAI DE CIMA DA MINHA CAMA! EM PRIMEIRO LUGAR! Foi isso o que eu disse... Até parece que eu nunca te contei que eu não sou daqueles que joga tudo pro alto! E VOCÊ PENSA QUE EU VOU TE TOLERAR? FALANDO COVARDIA SOBRE MIM?! VOCÊ É UM COVARDE! É ISSO O QUE VOCÊ É! Eu também não te contei?! Essa eu não devo ter contado, não... Sabe o que é: é que eu não faço as coisas pra depois ficar chorando pelos cantos! EU NÃO FAÇO! Eu não faço o que me dizem pra fazer! Tá me entendendo?! E eu não falo o que me dizem pra falar. Olha pra mim, eu tô falando com você! ENTÃO, EU REALMENTE ACHO QUE VOCÊ DEVIA IR EMBORA DAQUI! PORQUE VOCÊ É TÃO BOM, NÃO É MESMO? TÃO BOM! QUE DEVE SER AINDA MUITO MELHOR LONGE DE MIM! Essa sua culpa toda... Porque é culpa o que você tá sentindo... O nome dessa porra aí é culpa. Isso que você tá tentando jogar pra cima de mim não vai me deixar arrependido, não! Eu não fiz nada de errado. Porra! Você que foi embora. Você me deixou aqui! Eu sou palhaço, por acaso?! Eu tô de verde?! Não, porra! Eu tô falando com você! AI, MEU DEUS! ALGUÉM AJUDA! EU QUE FUI EMBORA?! EU?! FOI VOCÊ QUE FOI EMBORA... OU VOCÊ ACHA QUE AGIR DO JEITO QUE VOCÊ AGIU É FICAR DO MEU LADO, É SER MEU PARCEIRO?! VOCÊ ME DEIXOU. ABANDONADA. TAVA ESPERANDO UMA BRECHA PRA PULAR FORA! EU SEI, SEU COVARDE! EU SEI, COVARDE! AI, GENTE! EU DEVO TER CARA DE BOBA, SÓ PODE SER!... EU TENHO CARA DE BOBA? NÃO, ME DIZ! Escuta aqui... ESCUTA AQUI VOCÊ! EU QUERIA QUE VOCÊ SOUBESSE QUE QUALQUER PENSAMENTO SOBRE NÓS DOIS... SOBRE EU E VOCÊ, ACABOU DE SE PERDER. NESSE EXATO INSTANTE, NÃO EXISTE MAIS NÓS! NUNCA MAIS... Ótimo! Finalmente! Eu não posso acreditar nisso, caralho! Eu sou muito melhor com você fora do meu caminho! Fora daqui, sua porra! OLHA O QUE VOCÊ TÁ DIZENDO! VOCÊ TÁ NA MINHA CAMA, SEU ESCROTO! FORA DAQUI VOCÊ! FORA DAQUI, VOCÊ! AI, MEU DEUS! NA MINHA CAMA! NA MINHA CAMA! SEU COVARDE! SEU IMUNDO, SAI DAQUI!
sábado, 19 de setembro de 2009
obesidade mórbida
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
appris par corps
espetáculo francês, assistido na quarta-feira (16/09) no teatro nelson rodrigues, no rio de janeiro. seria o que isso que assisti? pas de deux avec deux homme. foi isso, exatamente isso. com exatidão. com extraordinária perfeição. até porque, caso esta não houvesse, haveria em cena a possibilidade - concreta - da morte. um pas-de-deux, referência ao ballet clássico, um pas-de-deux real, com seus perigos, ameaças e com o encanto provocado. a platéia em estado de exaltação. de gozo. de susto. em corpo presente, estado presente. appris par corps, ou, corpo aprendeu, corpo apreendido, aprender do corpo, corpo apreensivo. corps d'appréhension.
esse FALATÓRIO das VONTADES
eu me vejo cruzando a pista
eu me vejo pelo reflexo no vento
Vivo eu hoje mais morrendo
do que poderia supor
do que poderia saber
Eu morrendo nas esquinas
sempre que alguma incongruência nata
me azucrina
pisca no escuro e me faz aproximar
primeiro o rosto, o cheiro, o toque
depois o mistério de fazermos mesmo
parte
de mistério inda maior
Eu morrendo pelos pêlos
todas as vezes que um deles arrepia
sinalizando o desespero de uma coisa
contra a qual
eu me perco
eu desejo
o me perco
eu despejo
a possibilidade plena da vida
por um horror passageiro.
Eu morrendo em cada poça
eu morrendo em cada manhã
refeita a pele amanhecida
nunca sou eu nunca como antes
refeita a pele
amanheço pleno e torto
morri mais a cada segundo
morri mais a cada soco
que me faz, sim, me genuína
transforma minha feiura em beleza ruína
em estratagema
em conquista
para ESTAR vivo basta SER morto
para SER rio basta ESTAR corpo
sigo
pelo direto reflexo política abjeto
sigo firme fraquejando sempre em cada
protesto!
como pode ser a vida uma sucessão de destinos mal destinados
de encontros mal formulados de arranjos mal arranjados de silêncios
ininterruptos
e esse grito
é meu silêncio autoritário.
esse grito é minha forma de estar calado
cheio dessa dor
consumido pelo o que me faz
amável
me faz amante
me faz ser, ainda mais neste agora
alguém que digere o próprio semblante
me faça achar sedutora essa esquina dos olhos
esse precipício do sorriso
esse falatório das vontades
sim, me faça achar graça nesse amarguidão da pele
nesse debater dos pêlos todos sim me faça
comprazer o abandono
e saber ser resto sem desacreditar que sim posso sim ser eu estorvo
cravo a existência
em cada virada que o tempo dá nesse corpo
sim, cravo a permanência
morrendo pleno a cada beijo
morrendo mais a cada gozo gosto gozo rosto gosto torto
PARA ENFIM, SER CANÇÃO.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
com que olhos me lê
a face mexida
as linhas do corpo
todas elas
o corpo
todas elas
imprecisas
incapazes de aceitar o rumo torto dado à vida.
com que olhos você me lê,
com que olhos guia a sua vida?
uma maldade sem fim
um medo eterno que revolve aqui
também em mim
queria ser canção, mãe
para ninar os amigos com medo
mais medo que sono
canção, mãe
para aliviar teu peso
agora, para servir de travesseiro
servir de espaço livre
para seu abandono
queria ser canção, dessas que cola
dessas que puxa a pele
e imprime no corpo
a própria história
canção
silêncio
pausa
indecisão
queria ser propenso
poder ser eu mesmo alguma solução
de alguma dor qualquer
da sua dor se quiser
se pudermos
começar de novo
não saberíamos este depois que é agora
pleno
pause.
precisamos mover uma mudança de sorte.
não se mate. isso é óbvio. vamos construir a utopia
construir essa mão dada
essas mãos cosidas pelo caminho que se revelou torto
torta estrada.
com que olhos você me lê?
com que olhos eu sou eu para você?
totem
vai formando estante
de estante vai virando corpo
de pilha em pilha vai tomando forma
por sobre um por sobre outro
a hora é o agora
vai por sobre o rosto
ora por sobre ora sob o sobre
ora o fundo ocre
ameniza a tentação da queda
sensacional, lustrada
fica no topo sobe no totem
salta lá de cima
e faz fissura
por sobre o corpo
por sob a rima
por sobre o rosto
por sob a mina
estálida
inválida
retinta sucinta mina menina
com cisma
como imã
que me puxa
me detém
me eterniza
em ti
na vaguidão dos sentidos
me detém em ti
na louvável apreciação
dos seus suplícios
dos seus topos
do seu alto
do seu grilo
do teu risco
totem
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Sepulcro
terça-feira, 8 de setembro de 2009
o gosto pela coisa
primeiro você descobre
no dia seguinte, acaba esquecendo um pouco do gosto
porque se perde especulando o porquê.
a minha tia me disse, um dia, pela grade, no recreio da escola
não perde tempo tentando explicar as coisas
anda, vai correndo, vai jogar sua bola
eu fui
tropeçei
ralei o joelho
corri com a bola nos pés mas dentro estava travado
pensando no porquê gostava tanto do sorriso dos meninos
brincando ora de atacar ora de ser zagueiro
cicatriza, eu sei
com o tempo fica a marca
depois o que fica é só o esquecimento
aprende-se muito cedo que somos seres propensos
eu não deveria ter roubado o lápis com borracha do Mickey
mas existia em mim um gosto pela proibição
que só se curou no dia em que fui pego
com o brinquedo na mão
com o doce entre os dentes
com o coração pulando a boca
e revelando a mim
e ao mundo
que sim
eu também era gente.
tem sempre um gosto pela coisa torta que me acorda de madrugada e me faz pensar
cara, você deveria comer direito antes de dormir
comer direito para ter motivo justo ao acordar
mas dorme na boca um gosto pela morte
um gosto de adeus de azar de sorte
um gosto inexprimível
que não cabe aqui tentar ditar
deixa que o gosto profundo
confuso
há de me alimentar
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
simultâneo
você me escuta
através do céu aberto
eu tento
nos meus sonhos
escuto o atravessar
junto comigo
as coisas suas podem facilitar
ainda bem
estar onde estou
pode ser mais sorte
que amor
ninguém sabe o valor
da espera que esperei
importa eu saber
que a conquista fui em quem fiz
e nada mais faz sentido
porque o presente vive só
de incertezas
nada vale além do gesto tremido
do laço desbotado
do passo consumido
você me escuta
enquanto escuto eu você
recíproca entre nós é eternidade
eu te escuto porque você me invade
e juntos nos ruídos nos roemos destemidos
assim nos aceitamos
justo assim
sem entender
em que passo se opera
essa dança que não cansamos
de mover
que não cansamos
sem mesmo um porquê.
Revelação
Inundação
fora afaga.
Presente momento da inundação dos sentidos
da inundação desta vida que vendo tudo desse jeito
é incapaz de ser ainda a mesma
é incapaz de não se chocar
e de não produzir outro seu
destino
Mas aqui dentro é ânsia, outra vez
É inundação
tanta coisa para te dizer
tantos vocês diante dos quais devo estacar
até amanhã
e me abrir
sem medo nem dedos
revelando o íntimo como se faz com a carne no açougue
rompe-se o corpo pelo desejo de deter
E a sede nessas bocas parvas
enlouquecidas pela progressão dos segundos
cortadas pelos ponteiros que lhes tiram sangue
ou grito agudo
a sede nessas bocas meu rio meu há de matar
Pelo contato com esse treco aqui que sou
haveremos de amanhecer noutro sentido
com outra nova outra concepção
do que fora o amor nessa última geração
que é sempre a de agora
Inundo estou
sujo de fugacidade
capaz de partir e de destruir cidades
destruir constatações
confundir seus sentidos
e desabar uma ou outra convulsão
É PRECISO
para que percebas
estar prenhe
carregado
cheio de algo novo
que custará seu corpo
e não o contrário.
Inundo estou.
Inundo estou.
Inundo és tu.
domingo, 6 de setembro de 2009
o chão de nuvens
o que vi pela janela era o céu se convertendo em concretude
em possibilidade
em chão
em não mais destino
em não mais apenas divagação
*
vi o quanto fomos ou somos incríveis
vi o alumínio da asa batendo em meio ao vento
me senti seguro na insegurança
de um detalhe
de uma ousadia expressa em docilidade
era o plástico, o cinto de segurança
era a asa, uma engrenagem
a dança da máquina
voando livre
passível de destruição
passível de passos largos
de merecida contemplação
*
é concreto. somos menores do que somos.
lá no céu furando o universo
eu vi como há espaço
para aquilo tudo que não podemos compreender
por isso resta tanta incompreensão
pois tudo que ainda é dúvida
plana pleno no ar
deita seguro no colchão nuvelado
num quadro ansioso
para ser desvirginado
*
morrer às vezes
é um encontro da sorte.
*
estavam todos ali
comendo nuvem de algodão.
sábado, 5 de setembro de 2009
o tecer todo em minúsculo
começa abrupto
não tem hierarquia
entre nós as letras
o que resta é apenas este segundo
no qual você transita as pernas
saltando seguro
primeiro uma coisa
depois à outra
a costura se faz precisa
costurar é mesmo coisa
dessas bocas
que se dizem
e refazem o dizerentre nós dois
ora, esse eu esse você
o que existe única
e imperativamente
é mesmo o prazersalta
salta
é pelo despregar
que se impregna o salto
de conquistavai firme rumo ao ar
que mais firme será tua caída
teu movimento de revolta
ao chão
sua letra minúscula que pela docilidade
reveste-se dentro
em vulcão
e queima a noção
queima o conceito
queima a pele
queime essa perfeição
e reste sujo
puto
furado
reste pleno
teste o tempo
envolva-se no espaço
e renasça miúdo
capaz de ser temível
corruptível
desprezível
e voraz,
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
eterno revolvo
de te olhar profundamente
tempo de tocada a pele
saborear depois um entendimento
temo não tocar o tempo
e não me olhar profundamente
tocando a pele sem tempo
entendendo sem saboreamento
eu tento me temer ao vento
me fazer estático volúvel volátil presente
capaz de ser e, sim, des-ser
capaz de ir e, claro, volver
de voltar
de quem parte mas vai
de quem vai mas partido
medo de ser passatempo
medo por ser disparate
dos segundos
dos ponteiros
das tonteiras
e desse tintero
azul escuro
amarelo escurecido
temo ser temido
temo ser comido
temo ser resto
ser protesto
mas nunca temo
ser exato nesse instante
incapaz de temer
isso é o que me funda
fundo é o que me faz ser
resto
protesto
revolvo
contorno outro
eterno -revolvo-.