Perdoe-me a ingenuidade
O anacronismo de meu gesto
talvez, eu lhe peço, perdoe-me.
No instante das horas
eu menti para que você
pudesse seguir sem o peso
De ter que me ter
Perdão.
Eu menti a você
Fiz cara de quem aprova
mas dentro fui todo
reprovação.
Por isso, perdão.
Por ter fingido ser leve o seu tom
Por ter reconhecido seu absurdo
feito possibilidade
Eu menti quando disse a você
que seguisse sem olhar para trás
que a sua decisão seria então a minha
que a vida tem dessas coisas
e que eu sobreviveria.
Tudo mentira.
Eu morri
A vida me inaugurou novas mortes
A sua decisão permanece egoísta
e só sua
O seu olhar para trás
(aqui onde eu fiquei)
é sem dúvida hoje a maior agonia.
Peço desculpas por não lhe ter judiado um pouco mais.
Desculpa por não ter te revelado que o amor não cabe escrito num cartaz.
Peço perdão por não ter te feito amadurecer um fiapo de sentido.
Perdão por não ter te levado junto a mim ao abismo.
A sua descrença no amor me paralisou.
Cimentou meus sonhos de ventilador.
Sua incredulidade parva de jovem homem destruiu a utopia de uma ou duas vidas.
A minha
A sua
A nossa
As vidas correndo soltas na avenida.
Sua mesquinhez matou o instante
e o amor se descobriu sufocado.
Terra nas bocas secas
Gosto marrom de jogo ainda não todo vingado.
Você estragou tudo
e te peço desculpas
Por não ter te feito perceber:
que o amor como por ti é visto
que a vida como por ti é desenhada
que o homem como por ti se elocubra
Nada disso existe
A não ser
que sejas poeta o suficiente
para rachar a vida e dentro dela
Forjar nova estrada.
Mas convenhamos
- e peço desculpas -
Você não é o tipo de cara
tão assim afim de poesia.
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