Gentileza
Eu preciso
Amanhã é seu dia
e não o meu
Seja feliz
com seus novos amigos
Nada me dói tanto
do que qualquer pedaço disso
Virei amigo do absurdo
mais uma vez
A morte de alguém que se ama
sempre atualiza uma vida por inteiro
Ando vago
passageiro
Só falo sobre mim
mas é só ti que vejo
Não queria viver isto
mas é isto o que me deixastes
Pensei em me jogar
sob um veloz ônibus
Vou tentar antes disso
um médico que fale sua língua
Talvez ele encontre culpados
e me faça ter pena da minha vida
Meu ódio é hoje a coisa mais linda
que por ti tenho destinado
Não que eu o queira
mas é que inda assim ele me invade
Você me invade
a todo e cada passo
Não duro nem 10 minutos
seu o sem sináptico lastro
Queria ver estrelas e ouvir piano
mas sobrou só você
Desprovido de presença
sem nada exceto fumaça
Sobrevivo sem ônibus
a tombar sobre mim
Meu desassossego é tamanho
que nem ônibus daria conta de mim
Ando cabeça baixa
tentando reaprender o que já soube
mas que por sua causa
de mim perdi
Gentileza
por favor
Deixe-me seguir fazendo de ti
apenas fantasma
Com algum tempo
o medo de ti se escassa
Um dia vai passar um ônibus
e eu esperarei na calçada
Neste mesmo instante
passado o ônibus
por entre o vento hei de discernir
o seu leve rosto na oposta calçada
E então trocaremos cumprimentos gentis
e sua presença não haverá de me doer
Mas
o que resta ainda é só esse instante
O que resta ainda é só dor que não dói
cor que não resolve
rima que não me firma
encontros que não me abatem
Estou vivo
mas quero dormir um muito mais
Feliz fico
em saber que sincero
exposto como estou
sigo vivo, delirante
e um pouco
Capaz.
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