a etiqueta nunca foi tão ela mesma
cravada ali no chão
pisada em direções
que os pés na calçada não cansam
de experimentar
nunca foi tão ela assim tão só
tão cravada feito destino
tão precisa fosse feito rima
que vem e vai
e mesmo indo já deixa o gosto
na boca
da voltância
cravada no cimento
etiqueta já sem relevo
de tanto ser pisada
de tanto esmagada
já nem resta mais
outra coisa que não
ser solo
ser tapete
página para os cotidianos remorsos
que todo dia ela lança a quem pisoteia
seu corpo
nem se lembra quando ali foi parar
etiqueta de produto mercado
de farmácia padaria estação qualquer lugar
etiqueta que vem estampada com um nome
que já não lhe significa mais
não mais
filé de frango
etiqueta do frango colada no filé do cimento
colada no chão sem sabor sem descontentamento
nem chuva mais é capaz de lhe tirar
ela sobre
sem filé
sem frango
sem peito
sem preço
nem código de barras
filé de frango lambido pelos cachorros
que na rua já nem a percebem mais
porque virou pedra
virou grifo
marca
cicatriz
virou
mesmice,
cândida flor do esquecimento.
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