Olha, desculpa
eu não esperava ficar assim tão movido
é que está cada vez mais difícil se comover
e quando isso acontece eu fico assim
pulando as linhas e escrevendo aquilo que talvez nunca
eu serei capaz de dizer
Desculpa, eu sei que fizemos o que se deveria fazer
mas é que as coisas assim arranjadas
são independentes se cruzam outras se esbarram
e refazem nosso curso refazem nova estrada
e eu fico assim meio mexido
no olhar um rio preso querendo ser incontido
Desculpa, eu peço desculpa é por tudo aquilo
maior, impossível, gigante, impalpável, mas exequível
aqui dentro
aí fora
aí dentro
aqui fora comigo
eu peço desculpa pelo amor entre nós construído
quem somos nós (eu não deveria me perguntar isso)
mas quem somos nós?
não importa, importa?
pode ser você, amigo de um instante
amigo recente
pode ser você pedestre ouvinte jovem menina funcionário ou assaltante
qualquer um, amor morrido, amor jovem, amor concorrido
pode ser você, amiga
e todas como você, falecida
pode ser passado, presente, o que quisermos
nós somos os fundadores deste calor aqui dentro
desta brasa que me consome
neste instante
deste inconstante
transtorno pulsante
palavras impensadas
por isso sinceras
mesmo sendo às vezes sinceridade inoperante
eu estou perdido,
Desculpa
era apenas para dizer que estou comovido
com o olhar marejado olhar se diluindo
como quem vai sem querer chegar
vai sem partir
parte sem pensar
eu vou indo
vou indo no tempo
dentro-fora acumulado
dentro-fora agradecendo
e me desculpando
pelo amor que juntos (todos os nós)
fizemos nascer
amor este que agora nos consome
amor que agora entre nós
some...
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