Chove dentro do quarto.
Mas lá fora choveu o dia inteiro
eu estou lama goteira sou rio,
me afoga.
Aqui dentro chove em silêncio.
Lá fora o ruído que molha me afaga
eu entro aqui de volta todo água
e sinto falta dessa presença
suor fictício amamentando o corpo
choro incontido costurando o morto
que hoje germina sob a terra em prantos.
Aqui dentro, no entanto, eu tenho medo.
Esse silêncio incontido essas paredes duras
olhando sem fim para o centro do que é ser
olhando duras sem fim para o inevitável
para essa coisa que não tem nome
que não sou eu
nem é você,
Chove chove tanto,
aqui dentro é tornado feito furacão
mistura dos dias que passaram
com essa presente podridão
Com tais palavras faz-se um bolo
um estorvo
um tumor
um cân-
cer
horroroso.
Isso é o que é. Horroroso.
Não gosto.
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