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sábado, 31 de outubro de 2009
Entrevista Expressa
terça-feira, 27 de outubro de 2009
revolver
>>
o tempo está passando mais depressa?
porque não temos a sensação contrária?
ninguém me parou e disse
nossa, o tempo tá passando devagar.
todo mundo só se impressiona com a velocidade.
é possível?
que as nossas 24 horas diárias não durem propriamente as 24 horas em teoria?
medo.
sábado, 24 de outubro de 2009
ni-afirmativo
Roberto
achei melhor começar direto com o seu nome. Faz tempo que me sento para te escrever isso que agora chega a ti revoltado. Tudo o que já estás lendo está irritadiço, incontido, descontrolado. Não pedirei desculpas. Você merece cada palavra. Eu mereço cada segundo passado sozinho ao te escrever o que vou dizer. Não direi não te amo. Nunca acreditei que fosse amor, isso entre a gente. Mas o tempo passou. Você passou. A chuva daquele dia passou. As coisas não persistem tanto assim. Elas querem todas finalizar. Por isso eu te escrevo essas coisas, com a caneta numa mão e o coração na outra. Não porque está difícil aguentar, justamente o contrário, é porque daqui a pouco eu o vou esmagar. Apertar o peito externado e jorrar sobre a mesa de vidro um sangue antigo, mal passado, desnutrido. É o nosso fim. Eu quis assinar, dizer, divulgar, transformar em fato. Em fatídico fim formatado. Transformado em verso, rimado. Se não conseguimos nos manter com isso que nos consumiu, que ao menos umas poesias eu possa fazer. Que ao menos alguma felicidade disso possa nascer. Qualquer tipo de felicidade, mesmo a nervosa. Mesmo a apática. Felicidade hoje quer dizer qualquer coisa que não essa a nossa. Desculpa, disse que não ia me desculpar. Mas mesmo assim, eu devo dizer, acabou. Estou indo, se agora você gritar, espero que ninguém a possa perceber. Eu já não o vou. Eu, aliás, já faz tempo que quero, sim agora eu vou. Sem dor. Sem descontentamento. Sem nada porque fui todo consumido e já nem sei o que perdi. Não carrego em mim sensação de perda, estou completo. Completamente perdido. Completamente sem chão sem parede sem rede que me pegue de volta sem vergonha sem sequer alguma dor própria. Você me transformou em cotidiano. Me transformou em prosa, em primeira conjugação. Não posso mais, desejo estourar. Fica, então, com a memória. Fique com o que puder lembrar. Vou correndo, vou pelo mar. Vou me afogando, sem chorar. Sem metáforas. Sem respostas. Decido-me agora partir sem te dizer nada além do que isto, eu parto. Se vou daqui me lançar, me queimar em fatias, despencar, rugir, gritar até secar, não importa, importa? Você se quiser que se ponha a me procurar, mas adianto... Parto agora para ser eterno. Divido-me em pedaços, é a dica que a ti desespero. Já me perco outra vez e me perder, talvez só agora, é o que eu realmente quero, portanto, eu parto
emotivação.
eu não esperava ficar assim tão movido
é que está cada vez mais difícil se comover
e quando isso acontece eu fico assim
pulando as linhas e escrevendo aquilo que talvez nunca
eu serei capaz de dizer
Desculpa, eu sei que fizemos o que se deveria fazer
mas é que as coisas assim arranjadas
são independentes se cruzam outras se esbarram
e refazem nosso curso refazem nova estrada
e eu fico assim meio mexido
no olhar um rio preso querendo ser incontido
Desculpa, eu peço desculpa é por tudo aquilo
maior, impossível, gigante, impalpável, mas exequível
aqui dentro
aí fora
aí dentro
aqui fora comigo
eu peço desculpa pelo amor entre nós construído
quem somos nós (eu não deveria me perguntar isso)
mas quem somos nós?
não importa, importa?
pode ser você, amigo de um instante
amigo recente
pode ser você pedestre ouvinte jovem menina funcionário ou assaltante
qualquer um, amor morrido, amor jovem, amor concorrido
pode ser você, amiga
e todas como você, falecida
pode ser passado, presente, o que quisermos
nós somos os fundadores deste calor aqui dentro
desta brasa que me consome
neste instante
deste inconstante
transtorno pulsante
palavras impensadas
por isso sinceras
mesmo sendo às vezes sinceridade inoperante
eu estou perdido,
Desculpa
era apenas para dizer que estou comovido
com o olhar marejado olhar se diluindo
como quem vai sem querer chegar
vai sem partir
parte sem pensar
eu vou indo
vou indo no tempo
dentro-fora acumulado
dentro-fora agradecendo
e me desculpando
pelo amor que juntos (todos os nós)
fizemos nascer
amor este que agora nos consome
amor que agora entre nós
some...
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
LADO.a.LADO
vamos nele ficar parados
façamos um pacto, eu te peço
eu me jogo
vamos caminhar lado a lado
olhe para mim a tempo de dizer
isso que virá precisa mesmo acontecer
lado a lado
deixa eu te perceber
e riscar aqui neste espaço
aquilo que nem juntos podemos
assimilar
vai, vamos juntos
sem um ao outro exceder
vamos criar uma ficção que em nós quer crescer
sempre
e cada dia
sempre nova agonia
nós podemos juntos conceber
lado a lado, é o que peço a você
vamos ficar juntos
vamos ficar planos
superfícies abertas ao processo
abertas às revelações
aos protestos
sejamos, minha vida, corpo-
estrada
corpo-
história
corpo-
música
corpo-
gesto, ASSIM-SELADO
convulsionado pelo amor nas pequenas coisas.
dêem-se as mãos, eu lhes peço
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Guinada
assim, coisa boba
sem destino
virou coisa estorvada
coisa que em si mesma
é já início e precipício
virou descomedimento
virou excesso
virou resto
mas sem fazer falta
sem fazer nada exceto
vergonha.
embaralhou-me a noção
dificultou-me a razão
e agora resto eu aqui inoperante
tentando consertar esta ousadia
tentando comunicar um sim
ou não
mas, não!
minha poesia ficou toda boba
precisa de soco, gozo e malícia
precisa aos poços ter sua alma impelida
ser impedida
ser toda avesso sendo nisso estrofe verso e rima
sem beleza
sem contorno
sem recheio
é disso que ela precisa
dentro dela agora quer nascer
todo o ódio que em mim conservo
poesia agora é pré-texto
para a vida
para a sua possibilidade
pré-texto para a vida
sua inevitabilidade,
enfim,
cada tropeço
nela será calculado...
sábado, 17 de outubro de 2009
Luto [Dentro Preciso]
[palavras usadas sem comedimento]
[palavras nascidas sem pai nem mãe
morrem com o tempo].
[estas daqui, hoje, morreram].
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
resto
O VELHO
como faz para dizer eu te amo
desaprendi como sentir
e nem mesmo inda sei
como o amo
não sei de princípios
baniram-se em mim as leis
os pêlos desorientados me confundem
e pelas ruelas me escuto dizer
estou enrolando,
mas o quê
exatamente procria essa confusão
que mar de vermes é esse
cujo destino é sempre multiplicação
eu não sei
mas estou enrolando
vendo o corpo sendo de mim tirado
vendo os sonhos todos por mim serem feitos
mas inda em mim apagados
feito rasura
que na pele cria casca
e o corpo enferruja
desaprendi como voltar
e agora resto, estaco
fico lutando contra o meu reflexo
tentando ver nele um sorriso
mas se hoje tudo inda é opaco
perco-me num sono de há seculos
e dentro de mim colapso
pois é o velho, eu consigo escutar
o velho nos sonhos perseguindo a criança autoritário
o velho da criança que em mim não quer morrer
criança que de mim inda não foi tirada
inda de mim não toda rasurada,
nem toda erro
nem toda estrada.
sábado, 10 de outubro de 2009
o mistério do mundo.
Não são com essas letras, não é assim. Para você eu tenho que inventar outro alfabeto. É com o corpo. É dizendo eu te amo mas não assim. Você não está em você, você se perdeu. Mas se quiser te encontrar, eu sei, sim, eu vou ter que penar. Penando o corpo penando a dor. Cadê você no vazio que nos engoliu e acabou?
Mais tempo. Enquanto espero sua lágrima em mim chegar... Mais tempo, mais tempo. Por enquanto é tudo o que eu posso venerar. Vai, quer dizer, vem, me faz alguma coisa, me puxa o cobertor. Eu não vou ter medo. Eu não vou ter.
Porque eu ainda te amo. E eu nem sei o porquê. Tudo tão rápido tão sem resposta. A gente resta burro, resta com a aorta toda torta, meio imprecisa, meio engasgando querendo ar... Mas não. Amor bate lá dentro e desengasga essa condição.
Eu me duvidei. Mesmo eu me coloquei em questão. Mas se paro, se penso, nos cabelos, na pele, no riso, até na escoriação. Eu ainda te amo, só não entendo nada. Não. Mas importa? Vem, deita aqui comigo. Divide a cama, divide a canção. Você tá fazendo falta sem fazer, tá fazendo nuvem sem chover. Tá tão vazio, tão inconstante. Quem foi que inventou o incompreender?
Tem a sua cara. Tem a nossa dor. Tem o mistério do mundo. Tem muito do que vivemos, muito muito o que o muito for. Vai, Dória, puxa o meu pé e me faz acordar gritando eu te amo. Porque eu te amo sim, sua doida.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Pepino em conserva
Como se pode ser assim, tão propenso?
Se você chutar eu vou chorar
Se me beijar eu vou me apaixonar
Qualquer gesto seu o fim em mim é derradeiro
- Não há meio termo -
Qualquer silêncio seu em mim já é ponto
cravo
dúvida mortal
(leia-se desespero!)
Vai! Você assim me vê suscetível.
Isso existe dessa forma que estou escrevendo?Não em mim, não em mim
Estar suscetível?
Estar susceptível?
Há diferença?
Pois cada movimento cada gesto cada bigode que se eleva
em mim é onda que afoga
é onda que tudo leva
para regressar ao ser-desespero
Vai, você me sabe todo
estou no inferno deve ser passageiro
mas é que cada gesto seu tem que ter início meio e
fim
Meio e fim! Não em mim! Não quero ser porto!,
olhe aqui e veja dentro
como posso estar tão assim dependente?
É que cada polegar
é que cada agulha do pente
cada rente cada sonho cada parente
afeta o meu corpo fosse estante
fosse viga fosse eu totem dessa religião a qual nós dois
somos crentes!
Eu sou?
Sou mesmo?
Não queria ser mas sou
Reconhecer-se é mais fácil do que entender
o que é estar suscetível (que palavra é essa?) ao que estou...
Calo. Conservo. Sou pepino em conserva. Esbarrando a cabeça no vidro e vendo o mundo lá fora mover sem fim. Pepino em conserva, saltando do chão e ficando meio aéreo, meio ao meio de mim...
Sou menino que enerva os pêlos imaginando o sol rente cortando a pele
Fica vai, você sabe, eu estou suscetível.
Ser propenso a...
Propenso a... (Deve haver algo adiante, me ajuda!)
EStOrVo
Mas lá fora choveu o dia inteiro
eu estou lama goteira sou rio,
me afoga.
Aqui dentro chove em silêncio.
Lá fora o ruído que molha me afaga
eu entro aqui de volta todo água
e sinto falta dessa presença
suor fictício amamentando o corpo
choro incontido costurando o morto
que hoje germina sob a terra em prantos.
Aqui dentro, no entanto, eu tenho medo.
Esse silêncio incontido essas paredes duras
olhando sem fim para o centro do que é ser
olhando duras sem fim para o inevitável
para essa coisa que não tem nome
que não sou eu
nem é você,
Chove chove tanto,
aqui dentro é tornado feito furacão
mistura dos dias que passaram
com essa presente podridão
Com tais palavras faz-se um bolo
um estorvo
um tumor
um cân-
cer
horroroso.
Isso é o que é. Horroroso.
Não gosto.
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
MAS NÃO ISSO!
pode ainda haver algo genuíno, ainda algum princípio intocado
alguma incongruência sem apuro, pode?
a sensação de desgaste percorre todo o corpo e o desconfia
ele já não crê em outra coisa que já não tenha sido consumida
gasta, coisa prevista hoje já nos dicionários
discutida nas rodas de qualquer praça
mas pode vir ainda infortúnio maior e pior que os de agora
podem nascer ondas mais profundas, tiro mais certeiro
tenaz profundo, gritos excessivos nos agudos
com medos inda mais obtusos
pode?
ele pergunta sem inclinar o rosto aos céus
em silêncio, segue questionando
poderia haver em mim, neste momento, alguma fé nas coisas divinas
ou se não, já consolado
alguma resignação quebradiça, alguma certeza vencida?
ele pergunta sem inchar o coração
em silêncio, segue - sem perceber - desmontando
poderia haver em mim, neste segundo, alguma fé no movimento
alguma persistência no abstrato escuro
ou céu
ou no vazio deste papel
ou mesmo neste véu
(que cobre a donzela agora plena)
ele pergunta tentando causar no corpo qualquer irritação que o permita
perder
qualquer desmedida que o faça
sofrer
sim, pede aos céus sem sair do lugar
alguma coisa que me deixe incerto
que me faça moleque outra vez
naturalmente fácil de se enganar
mas não isso!
eu quero crer que fui enganado
eu quero crer que foi trapaça
anda, apareça! saia de dentro dessa caixa e fala alguma coisa
coloque as mãos sobre mim e faça chifres em minha cabeça
vem me ofende faz qualquer coisa por favor
mas não isso!
só não me inove pela sua morte
só não me inove pela sua morte
não pela sua morte
não por ela
por ela não
!
eu quero ser reinventado pelas borboletas
pelos romances de cabeçeira
pela magia pelas esquinas
ainda agora e outra vez
pelas coxas dos meninos
mas não pela sua morte
não mais pela sua morte
não por ela
nem por você
por você não não,
tudo mas não isso!
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
etiqueta urbana
cravada ali no chão
pisada em direções
que os pés na calçada não cansam
de experimentar
nunca foi tão ela assim tão só
tão cravada feito destino
tão precisa fosse feito rima
que vem e vai
e mesmo indo já deixa o gosto
na boca
da voltância
cravada no cimento
etiqueta já sem relevo
de tanto ser pisada
de tanto esmagada
já nem resta mais
outra coisa que não
ser solo
ser tapete
página para os cotidianos remorsos
que todo dia ela lança a quem pisoteia
seu corpo
nem se lembra quando ali foi parar
etiqueta de produto mercado
de farmácia padaria estação qualquer lugar
etiqueta que vem estampada com um nome
que já não lhe significa mais
não mais
filé de frango
etiqueta do frango colada no filé do cimento
colada no chão sem sabor sem descontentamento
nem chuva mais é capaz de lhe tirar
ela sobre
sem filé
sem frango
sem peito
sem preço
nem código de barras
filé de frango lambido pelos cachorros
que na rua já nem a percebem mais
porque virou pedra
virou grifo
marca
cicatriz
virou
mesmice,
cândida flor do esquecimento.
nascimento
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Algo assim, Melhor do que eu.
dedo quebrado
agora neste instante meu dedo quebrou-se em pedaços miúdos
mas tudo dentro é ainda paz
nós, eu e meu corpo, nos acostumamos com o estar partido
a gente se respeita nisso
a gente ainda é
sobrevive
resiste
atualiza.
incrível como a dor faz parte
como ela é essencial
dentro moído o corpo continua angelical
fazendo seus gestos seus atos-protestos
suas rimas infantis e seus sonhos eróticos
o corpo moído não é pretexto
é fachada
tudo está claro dessa forma
não queremos ser rosa
rosa cândida leve suave cortante
rosa que cheira a mel que cheira crime
rosa cheira e chama os amantes
mas não
fiquemos assim partidos
mas costurados por essa pele
que agora também está ralada
está riscada, pedindo se possível
corpo assim moído nunca sabe quando acabar
porque cada passo significa no fim das contas
nova sinfonia da dor louvável
nova sinfonia das partes improvavéis
escuta?
foi meu osso rangendo no coração
ouve,
agora foi meu dedo estalando a coluna
e virando canção
você me escuta?
me ouve?
não quero ser olvido.
dói corpo dói então
pois assim serás sincero
serás dito (no estalar)
e desdito (ao cicatrizar)
serás contínuo
e impreciso
me escuta?
me ausculta
me desnuda
me deixa apenas pele pedaços e pêlos
e nada mais
e nada há mais.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Liberdade poética
Juice - Vou esperar o café esfriar. Pode derramar.
Clark - E depois, vai de elevador ou de escada?
Juice - Escada.
Clark - Você já chamou o elevador.
Juice - Ele não chegou.
Clark - De escada você vai suar.
Juice - Depois me seco.
Clark - Vai ficar fedendo.
Juice - Ponho mais perfume.
Clark - Onde?
Juice - Pulsos, nuca, face e cabelo.
Clark - O elevador tá demorando mesmo...
Juice - Quer café?
Clark - Está quente?
Juice - Frio, mas adoçado.
Clark - Adoçado com açúcar ou mascavo...
Juice - Mel...
Clark - Mel?
Juice - Mel... Por isso iria de escadas, se elas chegassem.
Clark - Estão aí.
Juice - Onde? Não vejo.
Clark - Abra a porta.
Juice - Não estão. Disseram que iam comprar chocolate.
Clark - Quem disseram?
Juice - Susan e Candy.
Clark - Elas?
Juice - Sim, elas.
Clark - Me dá um pouco do seu café?
Juice - Está frio.
Clark - Eu sei, mesmo assim.
Juice - Perdão, mas está na hora de subir.
Juice entra no elevador. Vindo do lado de fora, correndo, Susan e Candy sinalizam a Juice que as espere.
Não acontece mais nada. O tempo nessa história pára. Não tem mais futuro, nem antecedentes criminais. Foi tudo inventado para nada. E agora, como se faz? Ficará por quanto tempo na memória a noção de Candy, Susan e Juice? E Clark, veio mesmo a falecer, ou personagens são imortais, nascem e seu fim é perdurar e eternamente ser?
Não direi mais seus nomes. Ficarão lacrados no meu silêncio, incapacitados. A liberdade é minha. Nela eu te absurdo eu te horrorizo eu me refaço. Nela, a tal liberdade, sou eu quem falo. Por sua boca, eu sei, mas eu quem falo sou eu quem fali, eu quem fale.
a volta. os que já foram.
você aqui dentro de mim ainda é tanto
por isso todo esse precipício
esvaziando o corpo
e pedindo pelo parar
voltou como que para me fazer lembrar
o quanto eu te amava
o quanto eu te amo
o quanto a gente é capaz de inaugurar
nem sempre aquilo que podemos compreender
eu te pediria fica!
mas você não iria me obedecer
hoje seu voo é pleno
e ele eu nunca iria conter
mas é que dói tanto
agora
dói tanto
e eu aqui solto dentro de casa
o que fazer?
eu pediria um sinal
eu pediria alguma coisa
que eu sequer sei se estou pronto para ver
mas não
resto
resto em profundo e quieto protesto
fico
duro
resvalo
sigo
enfim
colapso
é que hoje tudo voltou tão forte
que eu já não sei o que é força para aguentar
eu não sei o que o meu corpo quer
cambaleando assim entre coisas passadas
que estão aqui
fincadas
no mesmo lugar
no mesmo lugar
de sempre
o peito.
mas dói, dói e está doendo.
Regina levou um cano
- Também eu falo mesmo! Poxa, que coisa. Ah... Falou que ia ligar e não liga, aí fica a palhaça do lado de cá esperando o telefonema. Cara, que vida viu, eu vou te contar uma coisa. Ah... (retoma o silêncio, de olho no telefone, mas irrompe novamente) Ai, gente, coitada de mim. Mesmo! Coitada de mim, eu sofro demais, demais! As pessoas não têm consideração com você, não tem, Regina, acredita em você, mulher! Você sabe bem o que fazer. Aliás, você sempre sabe, é mulher da vida. Aprende batalhando. E você batalha, hein, sua doida?! Aí depois fica igual uma incendiária no cio e em vez de procurar um daqueles bombeiros maravilhosos, pega qualquer encanador que te aperta um pouquinho. Ah, mulher, deixa de ser besta, poxa! E agora ainda fica esperando o telefonema do fulano! Ah... Eu vou falar uma coisa... Eu levei foi um cano, viu! Eu levei um baita cano! Ah... Agora você tem que se sentir forte, porque você é muito forte... Ah... Eu sou uma baita forte... Ah... (olha para o telefone e reflete um instante, em seguida, avança sobre ele como se atendesse a um telefonema) Alô?! Ah... Oi, é você?! Tudo ótimo, obrigada por perguntar... E contigo, dormiu bem? Ah, sei... Também tô, Rô... Sim. Sim. Sim. Também quero, Rô... Ahã. Ahã. Sei. Sei. Eu sei, ahã... Sim, claro que sim. Também. Também, mas vem logo, Rogério, que eu não espero muito não... (desligando bruscamente o telefone) Isso, muito bem sua perdida! Fica se iludindo com esse encanador filho de uma porca, fica! Você fica se martirizando, sua perdida, fica?! Ainda sobra tempo pra isso, poxa! Tudo bem que foi lindo. E foi, gente. Ah... Foi lindo mesmo. Eu tava lá no forró da Marlene, um forrozinho bem sacana, mas eu gosto mesmo, que é que eu vou fazer. (se alterando) Quem é que paga as minhas contas? Quem é? Ah... (controlando-se) Então, eu tava lá... Toda suada, parecia uma porca só que eu tava limpa... Tava até com um suor cheiroso, tinha usado a colônia que eu ganhei no dia do meu dia lá... Aí, então... Ah, sua danada! Você é perdida mesmo! Tava de combinante: calcinha amarela e sutiã azul, as cores do ano novo. Então... Você é uma danada. (espia o telefone) Aí você tava dançando, suada, com as alças do sutiã saltando pra fora, junto com tudo que tava dentro, dançando sem dar trégua pra tristeza... Aí, suada. Gente, eu emagreci uns quilos de tanto suor que eu suei. Deu vontade de gritar, “Eu sou uma porca feliz! Tô suando mas sou feliz”... Aí, não é que ele me apareceu?! Jesus Amado, que o Senhor me perdoe, mas eu não agüento homem assim. Todo suado, de macacão, um esperto... é isso que ele era, um esperto. Saiu do trabalho e foi direto pro Forró da Marlene, sabendo que ia pegar o fluxo... E não é que te pegou, sua dadeira?! Você é ótima, deixa só sua mãe saber disso! É uma porca! Sou nada! Sou nada! Eu tava muito mal, poxa! Ser abandonada hoje em dia é complicado, ah... (entediada) Vai arranjar um serviço, mulher! Anda! (pega uma revista de fofocas e começa a ler, durante um instante, acha uma distração, que é cortada pelo seu levantar súbito do sofá) Você é danada, hein, sua doida?! Ele vai ver esse filho de uma porca. Nem que eu quebre o encanamento todinho dessa casa, nem que eu deixe o gás vazar, ele tem que vim aqui me socorrer. (longo silêncio, como se processasse o que acabou de dizer) E ele vai me tirar daqui de dentro toda suada, meio sonolenta... E vai me tirar no colo, e eu suando igual uma porca... Ele adora uma porquinha... E os vizinhos vão tudo aplaudir ele saindo comigo no colo... Eu vou mudar de roupa, só pra ficar mais bonita... Vou abrir o gás da cozinha. Não, sua burra, abre o do banheiro... A janela do banheiro dá no vão da casa da Darcila, ela vai sentir o cheiro e gritar igual uma doida que é. Além do mais, no banheiro é mais apertado e na hora de me socorrer a gente vai ficar num aperto só... (sai correndo em direção ao banheiro e volta sentindo o cheiro do gás) Êta, cheiro maldito... Eu vou trancar a porta e deixar a chave no lugar que ele sabe achar. Imagina se entra a Darcila pra me puxar lá de dentro... Maldito, danado! Vem buscar sua porca, vem. Falou que ia almoçar em casa hoje... E que quando chegasse em casa ia me ligar... Podia até ter passado aqui mas aposto que ficou com medo de não conseguir sair mais dos meus abraços e voltar pro trabalho... Ah, seu danado! Quando o gás vaza aqui na vizinhança, todo mundo chama quem? O meu encanador. Aí ele vai me tirar de dentro do banheiro, tô pensando até em ligar o chuveiro, pra parecer que o fogo desligou e eu não vi... Aí vai me tirar no colo... Aí vai ser o nosso casamento. Eu toda suada e ele de macacão... Igual no dia em que a gente se conheceu. (Ela corre em direção ao banheiro, uma longa pausa. De longe, se escuta o grito da vizinha Darcila, Olha o gás vazando, Regina! Imediatamente o telefone toca, toca, toca e toca, mas ninguém atende).
que não...
tira do meu corpoalguma incongruência explícitadeixa ele ser vácuopara outra vez desejar ser rimatira dele todo o sumodeixe-me seco sem melancoliadeixe-me vago sem persistênciaquero durar nas horasno vazio deste secularsegundorompe esse mistériovamos simplificar os planosreduzir os custosdeixar tudo fáciltudo simplesvamos ser simplóriosmedíocresinfelizese sóbriospara que tenhamos saudadede toda aquela desmedida que agoranos gera e contagianos constrangee impossibilitade ser outra coisaque não menos
que isto
que não mais
que este
corpo.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
list of month wishes
. beijar mais bocas do que no mês passado
. acordar pleno, em mais dias e menos cansado
. entender aquele motivo
. desentender uma certeza, apenas
. descongelar a geladeira
. fazer uma compra de frutas
. levantar 8 cenas
. escrever mais algumas
. te esquecer
. te lembrar
. te pedir
. te trocar por uma distração
. menos cigarro
. café, sempre café, obsessão, sempre mais
. lavar todas as roupas
. ajudar mais os cegos
. tirar mais fotos
. desrespeitar o clérigo
. avançar limites
. desautorizar autoridades universitárias
. expor conflitos, expor tretas
. praticar vandalismo
. praticar a paz
. atuar, dirigir
. ver os familiares
. beijar os familiares
. ter conversas sérias - e definitivas - com alguns familiares em específico
. não alterar a área de trabalho do computador
. poder me desautorizar e alterar quantas vezes o que eu quiser
. comprar um novo computador
. arrumar a tomada do meu teclado
. arrumar o meu peito, tá rangendo
. tomar banhos mais curtos
. economizar luz
. comprar um isqueiro
. beber mais água
. acreditar na própolis
. rever amizades
. ir ao teatro
. ir ao cinema
. ir às exposições
. pipoca
. sexo
. cachorro-quente
. acabar com alguma possível dor de dente
lista do mês presente
sempre maior do que cabe dentro da gente
mas inda assim
plena
possível
paciente
capaz de ser mês corrente
e de acorrentar
seguindo a gente pela vida toda
até não mais ver, amor.