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sexta-feira, 25 de maio de 2018

Acabamento

Nas pequenas coisas
Em coceiras localizadas
Nas pontas e nos fios
Na dobra das rugas
No embaixo do sorriso
Em tudo
Diria que em tudo
Se manifesta inteiro
Esse cansaço de faz anos.

Penso na delicadeza do tempo
Que acumulando-se
Vai compondo lento
E imponderável
Esse esgotamento.

Voltar-se aos detalhes
Para ver dor maior.
Coçar a pele até ver vermelha
A alma
Estafada.

Se não há só dor
É porque sobrevive plena
A esperança. De ser outra coisa
Ou antes
Apenas ser o mesmo
Mas de outra forma.

Muda.

Dias mais quietos.

Por que não ficar um pouco mais
Ali
Sem grandes revelações?
Poderíamos mudar o gênero do drama
Dessa invenção de existência?
Poderíamos desfazer os laços trágicos
Nem rir nem zombar
Apenas resistir
Como sendo resistir
Um modo ameno de ser
E aqui estar?

Tenho pensado muito sobre esta outra possibilidade. Não encontro se ela está antes ou depois de mim, mas sei que me envolve e solicita. Posso, então, ceder ao impensável? Posso existir de novo, renovado, dentro dessa mesma roupa que se tornou minha atribulada vida?

Queria sim, queria muito, a angústia do tempo andando colado aos meus suspiros de amor mal amados.

Queria sim, juro, queria que a minha ansiedade pela vida se convertesse, sem graça, em escuta: o que deixa de acontecer quando tudo está tão correndo assim?

Eu deixo de acontecer. Eu, escravo de uma dinâmica que, se um dia funcionou, hoje se move apenas para me moer.

Não quero mais. Não posso nem quero mais querer.

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