Não será possível dar outro nome que não o seu próprio.
Sobre isso, que virá a seguir, não será possível dizer que não foi coisa sua
destinada a si mesmo.
Assim o é: e será preciso aceitar.
Alguma palavra de homem a homem
De você para você mesmo.
De todas as suas qualidades
a mais perigosa é essa de ser misantropo
de não se misturar tanto assim
Essa de querer muito ajudar o outro
qualquer outro
mas nunca ou quase nunca
se ajudar.
É escuro agora. Você na sua solidão forjada.
O que dirá a si mesmo?
Dirá mesmo alguma coisa?
O que você conseguiria dizer
e mais que isso
O que conseguiria receber?
Queria hoje te agradecer
em momentos como esse
por ter se tornado
quem é você
Simples assim
eu te agradeço a si próprio.
Não é feio
não fere a moral
qual moral?
que morra!
Agradeço a você
pelo caminho até aqui.
E te pergunto se dói
dói saber-se alguém que importa?
Dói assumir sua glória?
Ora
as mazelas você até que divulga abertamente
elas te dão força
Mas e suas maravilhas?
Elas não?
Seria preciso dormir com essa
dormir junto às palmas
dormir abraçado aos sucessos
são tantos
foram tantos
tantos serão
Qual é a questão?
Leu demais sobre ego e egocentrismos?
Morre de medo de parecer autoelogiativo?
Está ensimesmado?
O século vinte e um não está para isso?
Deixe o tempo estar a seu favor
um pouco
te peço
deixe-se elogiar
pelos outros
por você mesmo
Elogie-se, cara, ora!
Por que não?
A sua ação no mundo você alastra com alteridade
e preocupação
Não veio a brincar
já sabes disso
então qual é o problema
da autopromoção?
Você vai ter que se aguentar
do tamanho
que seus sonhos tão vívidos
fazem de ti
a cada passo
terás que aceitar
ser gente que faz com que coisas aconteçam
não pode nunca
nunca mais
te anular
porque você faz
fez
está fazendo
agora, por exemplo, agora
você se esfrega na cara
a possibilidade de mudar
o que antes era desse jeito:
lamúria por ter sido belo
desespero pelo sublime que é traço seu
qual foi, amigo?
O que você perdeu quando ganhou?
precisa perder?
Perdem-se maiúsculas e letras minúsculas
desordem na formalidade dessa casa cascuda
dos conceitos imberbes
Continue, eu te peço
continue sendo fazendo indo
e parando
sempre que preciso
para se abraçar.
Não é pelo abraço que não veio
não é mesmo pelo movimento dos astros
hoje você brilha
porque no escuro
abraçado em seu cansaço
ainda assim lava a louça
passa um pano no banheiro
tira a poeira do ventilador
ouve música com letra estranha
e sonha a vida presente
o tempo presente
o instante que nasce
- você sabe disso -
e morre
e em ti, poeta,
dura mais
dura mais porque resplandece.
Um brinde ao seu inesgotável compromisso com a continuação dessa história
a sua
que é dos outros
que é toda nossa.
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