Vejo uma senhora sentada num banco público. Lembro-me de ti, avó minha.
Meu rol de memórias tuas é tão pequeno, mas tão caloroso. Lembro-me pouco de seu jeito ao falar. Recordo-me quase nada de algum momento específico entre nós dois.
No entanto, te vejo com o pano de prato pelo sítio em fins de semanas intermináveis. Vejo a ti, também, adoecida e sentada à mesa, aguardando a medicação para cessar o câncer que em ti se multiplicaria e de nós a levaria.
Lembro-me, vó, de um dia que eu estava brincando no quintal e quebrei o braço ao cair da árvore. Ao gritar, chorando para ser socorrido, uma amiga de minha mãe veio até o quintal e me chamou a atenção. Disse-me que você estava doente e que minha mãe precisava apenas cuidar de ti.
Faz quase vinte anos desde a sua partida. Conservo em mim, a despeito dessas décadas, um amor a ti todo especial, amor ameno, amor sem muito conteúdo, mas pleno. O seu sorriso, quando me veio, fez-se ficar.
Não escrevo por saudade, vó. Escrevo para lembrar. Para lembrar que mesmo longe a senhora continua.
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