Manualmente
Escrevo com caneta preta
Sobre papel branco
Faço-me lembrar que nem tudo
É possível definir.
Afirmo em perguntas
Deve haver algo que me sobrevive, não?
Deve existir algo, algum respiro ou coisa,
Aquilo que move meu corpo
E agiganta meu ânimo.
Tão massacrado pelas desistências todas
Tão acostumado aos desmontes
E à contabilidade das corrupções.
Deve existir em mim ainda
Ainda um pouco de alegria, não?
Escrevo para não desistir dessa certeza turva
Para não me acostumar à névoa densa
Que alimenta o meu cansaço dessa
(e talvez) de outras vidas.
Entre vinhos, cervejas e cigarros
Germino uma fé num absoluto despenteado
Sei que nele não posso me segurar
Mas é nele e com ele que bailo.
Hoje, como em tantos outros agora,
Acalenta-me a impossibilidade importante da calma
Digo a mim mesmo
Calma, cara
É assim mesmo
Hoje chove nublado
Amanhã também
O sol, que assim seja, já te existe
Feito memória.
Nada a ganhar desse mundo
Apenas a vitória de saber-se perdido
Você, aqui e agora
Ali numa outrora
Em plena perdição.
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